“Não há graus de vaidade, apenas graus de habilidade em disfarçá-la.” (Mark Twain)
Até o século XIV, a vaidade não recebia um caráter narcisístico, mas meramente de futilidade. Se explica assim porque a vaidade também é definida como a qualidade do que é vão, vazio, e/ou firmado sobre aparência ilusória. Mas, hoje, uma definição mais precisa estaria, aparentemente, na avaliação muito lisonjeira que alguém tem de si mesmo (fatuidade, imodéstia, presunção). Todos somos vítimas da vaidade; a questão é o quanto essa característica define nossos comportamentos ou o quanto nos pautamos, na vida, vaidosamente. A vaidade é uma armadilha. Ela pode surgir diante de situações que seriam consideradas exemplares. Nas palavras de Ernesto Sabato, a “vaidade é um elemento tão sutil da alma humana que a encontramos onde menos se espera: ao lado da bondade, da abnegação, da generosidade”. Por exemplo, muitas vezes a vaidade afasta o conceito de que quando se dá com uma mão, que a outra não o veja. Ou seja, a vaidade compromete a positividade do ato bondoso praticado. O reflexo da vaidade pode ser a obscuridade que ofusca aquilo que era límpido. Quem ajuda o faz porque deseja ajudar, mas se o faz para se engrandecer, está movido pela vaidade. O ato de caridade fica corrompido, ainda que, algum bem tenha sido realizado. “A vaidade é um princípio de corrupção.” (Machado de Assis) Mas, vamos além, pois as principais filhas da vaidade são a arrogância e a prepotência. E onde há arrogância, o mal está presente. A arrogância, como a prepotência, na maioria das vezes, envolve a insegurança ou a falta de substância. Pode-se, então, entender quando Balzac dizia que “deve-se deixar a vaidade aos que não têm outra coisa para exibir”. O vaidoso é muitas vezes o senhor das convicções não fundamentadas, inclusive como forma de esconder suas inseguranças e falta de substância. Não por acasoNietzsche dizia que a convicção é maior inimiga da verdade que a própria mentira. Os vaidosos têm dificuldade de ouvir e de debater. A dialética não está no vocabulário ou no comportamento do vaidoso. “Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade.” (Rubem Alves) Mas a prepotência também se apresenta. Em regra, o vaidoso tenta desqualificar ou diminuir o outro para que sua alta autoqualificação soe ainda maior. O vaidoso, por força da arrogância e da prepotência, com sua auto lisonja, adora ser adulado, enobrecido. Lembro de um indivíduo que, à frente de uma empresa, tinha um assessor cuja atividade era angariar comendas e títulos para ele junto a diversos órgãos e associações. Os vaidosos não se satisfazem com sua auto-aclamação, eles necessitam dos aduladores, dos bajuladores. “A bajulação é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana.” (François La Rochefoucauld) Por vezes, vemos claros julgamentos aos aduladores, mas eles existem por que são alimentados pelos vaidosos; podemos compreender porque Shakespeare afirmava que quem adula é digno do adulador. E não se engane, pois a vaidade, uma vez incorporada pelo homem em sua essência, não é suprimida pela morte – na boa lição de Axel Oxenstiern: “O epitáfio é a última vaidade do homem.”