“Não confunda intimidade com privacidade… se fossem semelhantes os banheiros não teriam portas.” (Gastão V. Hecke Jr.)
Outro dia, conversando com um amigo, começamos a debater sobre os conceitos de intimidade e privacidade. Concordamos que muitas pessoas entendem que estes termos seriam sinônimos óbvios. Particularmente não concordo com esta simplificação e vou apresentar minha defesa neste sentido. Entendo que, de forma um pouco complexa, estes conceitos se comunicam e interagem entre si, mas, dependendo do contexto, estão longe de serem exatamente a mesma coisa. O “site” dicio.com.br define o conceito de intimidade como o “Caráter do que é íntimo, secreto”; já a privacidade é definida na mesma fonte como “intimidade pessoal”. “Pronto, Mauricio. São sinônimos. Aliás, o próprio “site” indica as duas palavras como sinônimas”, dirão alguns. Assunto resolvido? Mais ou menos, pois quero enveredar por outra linha. Exploremos a expressão “ser íntimo de alguém”, que também pode ser escrito como “gozar da intimidade de alguém”. Ao fazê-lo, isso me faz pensar que podemos definir a intimidade como algo extremamente nosso, que não compartilhamos com qualquer um, seja algo físico ou um sentimento. Seguindo esta linha, começamos a ver uma sutil diferença para a privacidade. Enquanto a intimidade é algo que podemos compartilhar com quem desejamos que se torne íntimo, o conceito de privacidade traz em si a definição de um limite absoluto para aquilo que pode ser compartilhado. O que me é privado, eu não compartilho. Quando invoco meu direito à privacidade, estou realmente dizendo que determinados limites não podem ser ultrapassados, mesmo para aqueles que consideramos íntimos. Quem é íntimo pode, mas não pode tudo. Algum limite precisará ser estabelecido, além do qual o argumento da intimidade não será aceito. Se, por outro lado, a intimidade entre duas pessoas for tão completa que elas compartilham absolutamente tudo, o conceito de privacidade, entre elas, simplesmente não faz sentido… ela não existe. Se minha intimidade com alguém é total, não há privacidade entre nós, e é quase como se fôssemos um só. Por outro lado, se minha privacidade é total, significa que nada compartilho e a intimidade é nula. E sabemos que a totalidade é o exato oposto da nulidade. Mas deixando os extremos, se observarmos um grupo determinado de pessoas e olharmos todos os relacionamentos dentro deste grupo, é possível imaginar que cada pessoa estabelecerá a sua estratégia de conceder, ou não, determinado nível de intimidade a cada um dos demais membros do grupo. Cada um deles estabelecerá suas estratégias particulares de interação, sendo certo que elas – as estratégias escolhidas – serão ajustadas por cada um, até que todos se sintam confortáveis com os limites de intimidade e privacidade estabelecidos, concluindo, neste momento, que qualquer mudança unilateral não mais produzirá alteração na realidade. Dito isso, me surpreendo ao constatar como essa situação se aproxima do que, em matemática, denominamos de “Teorema do Equilíbrio de Nash”, que foi tão bem explorado no filme “Uma mente brilhante”, com Russel Crowe. Mas aí é muito assunto em um texto só e acabo percebendo que tudo isso daria mesmo é uma boa tese de mestrado.