“Não temos história do amor, da morte, da piedade, da crueldade, da alegria.” A queixa de Lucien Febvre, em 1948, muito repetida desde então, tornou-se quase um manifesto da disciplina que se convencionou chamar a “história das mentalidades”. Uma das lacunas que o fundador da escola dos Annales deplorava foi preenchida pela “História do medo no Ocidente”. Ao tomar como objeto de estudo o medo, Jean Delumeau parte da ideia de que não apenas os indivíduos, mas também as coletividades estão engajadas num diálogo permanente com a menos heróica das paixões humanas. Revelando-nos os pesadelos mais íntimos da civilização ocidental do século XIV ao XVIII – o mar, os mortos, as trevas, a peste, a fome, a bruxaria, o Apocalipse, Satã e seu agentes (o judeu, a mulher, o muçulmano), o grande pensador francês realiza uma obra sem precedentes na historiografia do Ocidente.