“Todos têm direito de se enganar nas suas opiniões. Mas ninguém tem o direito de se enganar nos fatos.” (Bernard Baruch)
Manipular tem por significado carregar com as mãos e realocar. No sentido de maior uso, hoje, podemos dizer que manipular é, por meio de ardis, transformar pessoas em objetos (até repetem ideias, mas não ponderam sobre elas ou conscientemente decidem), para lhes conduzir a um determinado fim de interesse do manipulador. Portanto, a manipulação nada tem a ver com apoio a uma determinada causa. Quem apoia determinada causa o faz porque tem interesses nela. Nos séquitos, que hoje presenciamos, há manipulados e apoiadores. Poder-se-ia alegar que os manipulados também apoiam? Não! Os manipulados não têm real compreensão e seu posicionamento é fundado na ignorância ou em uma falsa percepção da verdade infundida, ao contrário dos apoiadores. Os apoiadores são os, hoje, denominados “raiz”. Obviamente, há manipulados que poderão – ao conhecer a realidade, serem capazes de interpretá-la e livremente se posicionar – se tornar apoiadores ou refutar participação na causa. A frase de Jacques Abbadie (“Pode-se enganar alguns homens, ou enganar a todos em determinados lugares e por algum tempo; mas não se pode enganar todos os homens em todos os lugares e em todos os séculos.”), que veio sendo alterada no tempo e reivindicada por várias pessoas, nos dá a noção de que os ardis não se mantêm eternamente. Consequentemente, há um momento em que não mais existem manipulados e, consequentemente, a causa só tem apoiadores. Não há que se falar em manipulação para uma boa causa. A manipulação envolve ardil, pois ela leva o indivíduo à condição de ser conduzido pelo manipulador a um fim, sem que conheça a verdade do mesmo. E é exatamente aí que o manipulado deixa a condição de indivíduo para a de objeto. Por outro lado, se falta verdade, se há ardil, a manipulação não pode ser boa nem se prestar a uma boa causa. Os manipulados não são necessariamente ignorantes, mas desconhecem determinado fato ou situação, ou são levados pelo manipulador a crer em uma inverdade, e creditam-na. Lembremos a lição de Baltasar Gracián y Morales: “Não há ninguém mais fácil de enganar do que um homem honesto; muito crê quem nunca mente, e confia muito quem nunca engana.”. Nos honestos ingênuos, os manipuladores talvez tenham o campo mais fértil. Ocorre que, a manipulação pode transformá-los em apoiadores quando não mais restar a ingenuidade do desconhecimento por trás do ardil. Ou seja, a manipulação pode trazer o arrependimento a quem tenha bom caráter ou a descoberta interna do mal caráter, e, nesta última hipótese, já não mais há que se falar em honestidade (reconhecido ou sublimado o caráter duvidoso). O manipulador, antes de tudo, deve ser um ator, pois ele atua em um teatro, e, talvez por isso, Shakespeare dizia que “o rosto enganador deve ocultar o que o falso coração sabe”. Não custa lembrar que os apoiadores serão “testemunhas de credibilidade” do manipulador no intuito de ajudá-lo a manipular terceiros. E como não se permitir manipular? Verdade e conhecimento! Tente conhecer, para que haja uma visão crítica. Ser crítico não significa ser necessariamente contrário, mas reflexivo. Busque sempre fatos e circunstâncias para não cair na falsa percepção da verdade ou na mentira. “Duas verdades nunca se podem contradizer.” (Galileu Galilei). Outro fator importante está na atenção ao discurso e ao comportamento: os ardilosos tendem a ser hipócritas por natureza. Geralmente, o manipulador prega, orienta e sugere atos que não pratica ou são nitidamente diversos do que ele faz. “Somente os tolos exigem perfeição, os sábios se contentam com a coerência.” (provérbio chinês). Não faltam exemplos nos cenários político e religioso atuais. Não custa reforçar: seja sempre crítico, no sentido de pensar e questionar causas que lhe são vendidas, ou você pode comprar gato por lebre.