“Que falta eu sinto de um bem / Que falta me faz um xodó.” (Luiz Gonzaga)
Tem alguns costumes que vão perdendo sua essência ao longo dos tempos e ganhando uma nova roupagem. Outros são esquecidos completamente e, às vezes, se tornando exclusivamente regionais. Lembro que uma das minhas felicidades de infância e juventude era brincar nas festas juninas. Tinha uma em cada fim de semana de Junho, Julho e até em Agosto. Era diversão garantida, e peso a mais na balança. Fazíamos um roteiro para não faltarmos nas melhores aglomerações, nas igrejas, nas ruas e nos bairros vizinhos. Mas o certo mesmo era garantir o melhor lugar de visão para as disputas de quadrilhas. Era um show à parte. Tinha até troféu. Lembro de uma das minhas avós fazendo as saias rodadas das meninas (com goma e bambolê) e minha tia treinando o pessoal para dançar. “Olha a cobra! É mentira!” Era a sensação do bairro. As brigas eram certas na escolha da noiva, do padre e da princesa. Mas todos acabavam se entendendo e repetindo o papel do ano anterior. Gostava de ver, mas não de dançar. Uma vez ganhei a disputa de sinhozinho na escola, treinei a quadrilha, e, no dia da apresentação, não quis participar. Não teve quem me fizesse mudar de opinião. Dançaram sem mim. Eu fui correr a festa inteira brincando com estalinhos. A gente tinha que comprar ficha para tudo, até para respirar. Era fila na pescaria, nas argolas, no tiro ao alvo,… Tinha maçã do amor, algodão doce, canjica, quentão e cachorro quente. Católico, ou não, todo mundo celebrava os santos da época. Roupa de frio com fogueira acesa, assando batata doce, tinha seu charme especial. Ah, as fogueiras com galhos de eucalipto. Já imaginou o aroma da rua? O céu era iluminado com a imprudência dos balões e os fogos de artifício eram uma disputa entre os baloeiros. Tudo era festa! As últimas festas em que fui, antes da pandemia, foram todas particulares, entre famílias e amigos. Cada um levava um quitute típico da época. Não é que não estivessem boas, mas senti falta da confusão, das filas, dos flertes dos correios do amor e os padres ficando vermelhos, sabe. E, hoje, fico pensando qual será o futuro dessas festas. Será que alguém que viveu isso ainda sente a mesma falta que eu sinto? Será que teremos novamente esses prazeres e compartilharemos nossa cultura perpetuando esses hábitos? Será que dançaremos ao menos um forró pisado ao som de Gonzaga, Amelinha e Elba? Gente, não posso ouvir “Frevo Mulher” sem lembrar desses bons tempos. Mais alguém, por favor? Ou estou ficando velho mesmo? Não vejo a hora disso tudo normalizar para acender a fogueira e sentir novamente o calor do piseiro arretado.