SER RESILIENTE É NECESSÁRIO. PARADOXO DE STOCKDALE.
“As desventuras são suportáveis porque vêm de fora, são meros acidentes. É no sofrimento causado pelas nossas próprias faltas que sentimos a ferroada da vida”. (Oscar Wilde)
Os dias têm se arrastado de forma irritante. Lá se vai mais de um ano desde que começamos a lidar com a Pandemia de COVID-19. Distanciamento social, uso de máscara e álcool gel são regras que vêm se mostrando corretas, embora longe de serem confortáveis. Pelo menos a galera do Youtube do “Olá Ciência” deu uma flexibilizada na higienização das compras de supermercado. Cada vez que eu tinha de passar álcool nas embalagens de papel eu as tratava como recém-nascidos, torcendo para não rasgar, ou simplesmente trocava as embalagens. Percebo que muitos aspectos desconfortáveis dessa conjuntura me remetem a um cenário que só imaginei possível em eventos de guerra. Aliás, acho que nunca comentei com vocês que, segundo teoria antropológica de minha autoria, acredito que a primeira guerra no Planeta Terra deve ter ocorrido logo depois daquela cena de 2001, uma Odisseia no Espaço, do Stanley Kubrick, em que o macaco joga um osso de fêmur para o alto. Mas, pensando bem, e dentro da minha limitada capacidade de observação, é difícil entender que a única espécie capaz de desenvolver uma capacidade cognitiva elevada (Será???) ainda apele para essa última alternativa para resolver suas divergências… apesar de muitos pensarem que esta deveria ser uma das primeiras opções. Vai entender… Mas o fato é que Guerras, Pandemias, Terremotos e qualquer outro evento desta magnitude trazem muitos aspectos em comum. Constatação feita, comecei a pensar se eu poderia aplicar o que aprendi sobre o “Paradoxo de Stockdale” para lidar com a situação atual. Para quem não conhece, segue um breve resumo: James Bond Stockdale era piloto da Marinha americana e atuou na Guerra do Vietnan, sendo abatido e capturado em 1965, e mantido prisioneiro por sete anos e meio. Ele passou 4 desses anos em uma solitária e outros 2 com bolas de ferro nos pés. Foi torturado 15 vezes. Posteriormente, diz-se que o escritor James C. Collins relatou uma conversa que teve com Stockdale sobre sua estratégia de enfrentamento durante seu período no campo de prisioneiros de guerra vietnamita. Quando Collins perguntou quais prisioneiros não conseguiram sair do Vietnã, Stockdale respondeu: “- Oh, isso é fácil, os otimistas. Oh, foram eles que disseram: ‘Estaremos fora no Natal.’ E o Natal viria, e o Natal iria embora. Aí eles diziam: ‘Estaremos fora na Páscoa’. E a Páscoa chegaria e a Páscoa iria embora. E então o Dia de Ação de Graças, e então seria o Natal novamente. E eles morreram com o coração partido. Esta é uma lição muito importante. Você nunca deve confundir a fé de que vai vencer no final – o que você nunca pode perder – com a disciplina para enfrentar os fatos mais brutais de sua realidade atual, sejam eles quais forem”. Collins chamou isso de Paradoxo de Stockdale. A intervenção americana no sudeste asiático foi um erro colossal, que cobrou seu preço em vidas, porém, nossa situação atual é ironicamente similar, na medida em que erros na condução de nossa realidade pandêmica nos têm levado a perdas relevantes e, por vezes, perfeitamente evitáveis. Por isso, nesses tempos difíceis, precisamos aprender com Stockdale, quando ele insiste em que nunca podemos perder a fé, mas devemos evitar o otimismo desarrazoado, já que ele não colabora para lidar com a realidade, sendo muitas vezes a frustração de tais expectativas a maior razão de nossas angústias. Ainda vamos levar um bom tempo para nos recuperar do baque, mas precisamos olhar nossos horizontes pessoais de curto prazo com equilíbrio, e cuidar de nós mesmos e de quem está próximo. Como dizia Oscar Wilde: “O homem que se ocupa do passado não merece ter um futuro.”.
Autor: Maurício Martins
Autores citados: Oscar Wilde, Stanley Kubrick, James Bond Stockdale, James C. Collins