“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.” (Luiz Vaz de Camões)
Ser rico, em segurança; afastar-se do sofrimento. No existir, constituir-se, habitar confortavelmente à res e no status; ter a segurança de sentar-se à janela do cômodo e ver os anos passarem de janeiro a janeiro. Tradições e costumes, em nosso arcabouço cultural, a fortuna coabita com a figura mitológica romana de Janos (ano, janeiro, janelas) – guardião do passado e do futuro, senhor dos inícios, decisões, transformações e da colheita. Ironicamente, como a serpente de Shiva, o mais valioso bem extrapatrimonial, assustadoramente carrega o drama de fatalmente a tudo queimar, consumir, transformar: patrimônio, matrimônio, carreira, previsíveis rotinas…. Nada subjuga o tempo! Há muito afirmou Heráclito que nada é permanente, exceto a mudança. Nessa incerteza, o haver e a diversidade de fenômenos do universo nem sempre se harmonizam com os hábitos que carregamos. Habitar segurança faz-se uma ilusão – tão somente um espaço temporal, tornando a busca por satisfação duradoura uma jornada em tormenta. Ou, o apego das percepções aos fenômenos impermanentes torna-se a gênese do sofrimento. Constatar esse fato traz, à luz, sinais antes imperceptíveis, desconhecidos ou ignorados: o sofrimento é algo comum, uma realidade universal, presente mesmo no conforto; em detrimento do verbo ser, a dinâmica universal aplica à realidade o verbo estar… não somos, estamos; sublime é, em primeiro lugar, habitar em segurança o corpo físico e mental. E, tudo bem que a realidade seja dessa forma! Assim, mudar, sair de lugar que pode ser considerado seguro para um lugar que seja considerado inseguro talvez seja só uma percepção, mas não uma realidade. Não há isenção de inseguranças! Não há absolutismos, ou sensação plena de segurança, de preparo para as mudanças. Avaliar e planejar não é se fundar em certezas, mas em acautelamentos. Para compor qualquer estratégia, consegue-se tão somente estratificar os conhecidos estratos, mas sempre haverá o imperceptível, o desconhecido e o ignorado. Conforme já afirmou Maquiavel: “Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança”. Somente o mudar irá permitir enxergar o que se escondia sobre a névoa, onde nem tudo é martírio, fobia e terror. As mudanças são inevitáveis, nos livram de velhos fardos e nos mostram maravilhas e riquezas antes desconhecidas, escondidas em um mundo até então paralelo. Essa é a magia da adaptação, aproveitar os novos prazeres e cuidar das novas responsabilidades. Em um mundo onde cada vez mais a realidade é preenchida pelas mudanças, o importante é estar apto ao desapego para dar espaço para as novidades e para um melhor viver. “Em nossas vidas a mudança é inevitável, a perda é inevitável e a felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo de ruim.” (Sidarta Gautama)
Autor: Carlos Frederico Silva da Costa Filho
Autores citados: Heráclito, Luiz Vaz de Camões, Nicolau Maquiavel e Sidarta Gautama.