“As nossas paixões são verdadeiras fênix. Quando a mais antiga arde, renasce uma nova das cinzas da primeira.” (Johann Goethe)
Tempos de pandemia são tempos estranhos. Dentro do “home office”, os dias meio que se arrastam, mas é a solução do momento. Não é perfeita, como nada que é extremado o é, mas é o que temos para hoje, enquanto a vacina não vem. Mas, ironicamente, esse momento incomum me permitiu uma transição mais fácil para uma nova condição, qual seja, a de aposentado. Sim… vou me aposentar após quase 38 anos de serviços, sendo os últimos 34 anos na mesma empresa. Sinto-me meio como aquele corredor que vence a corrida em bandeira amarela, sem ninguém poder ultrapassar. Quase um anticlímax. Como ainda não cheguei aos 60, muitos acham que estou maluco por me aposentar tão novo e no meio de um evento que traz tantas incertezas. O fato é que comecei a trabalhar bem novo, fruto de minha vontade de atingir certa independência financeira, que me permitiria tomar minhas decisões… o que, pensando bem, pode ser perigoso quando se tem menos de 20 anos. Mas essa pressa lá no início da carreira me trouxe ao presente momento, e a decisão está tomada, a despeito dos vários conselhos que indicam se tratar do fim da melhor fase da minha vida. No meio desse processo, percebi que uma dúvida não sai da minha cabeça: estarei eu vivendo um momento de Renascimento ou de Ressurreição? Talvez o significado mais conhecido atribuído a Renascimento seja aquele que nomeia uma etapa da história humana, mais ou menos compreendida entre os séculos XIV e XVI, em que saímos das trevas da idade média e, através da redescoberta da antiguidade clássica, abandonamos as práticas feudais, ao mesmo tempo que retomamos nossa capacidade de criar, evoluir, inventar e criticar. Por outro lado, Ressurreição está mais vinculada à Páscoa, cuja comemoração está próxima, logo ali no início de abril. Aliás, seria coincidência me aposentar nesta época? Bem… pensando na Páscoa em si, gostaria de discorrer sobre os seus significados. Trata-se de importante data do calendário religioso cristão, sendo lembrada em memória à ressurreição de Jesus Cristo. Voltando ainda mais no tempo, vemos que tal celebração teve sua origem em uma comemoração judaica chamada “pesach”, que acontecia, acredita-se, na mesma época que Jesus foi crucificado e ressuscitou. Na tradição judaica essa festa ligava-se à libertação da escravidão no Egito, representando uma ordem direta de Javé a Moisés, que a transmitiu para o povo hebreu, conforme o relato bíblico, em Êxodo 12:21-27. Ao final o texto conclui …” E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se e adorou”. A data da Páscoa foi instituída pela Igreja Católica no Concílio de Nicéia, em 325 D.C. A Igreja determinou que a primeira lua cheia após o equinócio de primavera (início da primavera no hemisfério norte) seria a data para iniciar-se a comemoração da Páscoa. E depois de tanta referência histórico-religiosa só consigo pensar de onde teria vindo a ideia de Coelhinhos e Ovos de Páscoa? Do que me lembro, o coelho e os ovos são frutos da absorção, pela fé cristã, de elementos pagãos. A hipótese mais aceita é que ovos e coelhos eram vistos por povos na antiguidade como símbolos da fertilidade. Assim, à medida que esses povos aderiram ao cristianismo, esses elementos foram sendo absorvidos pela festa cristã. E fico aqui pensando quem foi que disse que sincretismo é coisa apenas de baiano. Ao fim, a tradição de enfeitar os ovos e escondê-los chegou ao continente americano por meio da imigração alemã do século XVIII. Mas o que vejo ao final, é que ao representar a Ressurreição de Cristo, a Páscoa nos traz uma mensagem de continuidade do bem e de esperança. Bom… prefiro pensar que minha situação atual tem um pouco do ressurgir da Páscoa, e um pouco do renascer, vivido por “rafaeis” e “michelangelos”. Se de um lado vejo neste início de nova fase um pouco da fé e esperança pela chegada de dias melhores, tal qual o evento cristão, também vejo na aposentadoria a oportunidade de retomar uma série de projetos que ficaram esquecidos no passado e de me reinventar, qual um exercício de Leonardo Da Vinci. Mas ao final, o que realmente importa é que, seguindo uma ou outra analogia, torço para que o resultado seja alguém ainda melhor do que aquele que começou o processo. E, sendo assim, abençoada seja a Páscoa de todos os seres humanos, como, onde e quando quer que ela ocorra…
Autor: Maurício Martins
Autor citado: Johann Goethe
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CrettonNico