“O sapiens já não sabe mais de nada…” (Leonardo Campos)
O que eu temia está acontecendo em uma velocidade que não dá para acompanhar. Já se sabia que com a modernidade o homem evoluído teria uma fase de platô, com suas conquistas, e depois ficaria sem sentido. Apenas existindo, planando por aí. Tudo foi criado e tudo foi aproveitado. Nada mais excitaria sua eterna busca por realização. A criatividade teria que se reinventar. Agora o que eu vejo é que já estamos ladeira abaixo nessa montanha russa. Dizia Isaac Asimov: “Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.”. As redes sociais e a televisão estão emburrecendo cada vez mais a massa. O que deveria ser de grande utilidade se tornou o novo mal. Não se pensa mais, só se reproduz. E quem cria o produto manipula as mentes ao seu bel prazer. “Os jornais mentem, os historiadores mentem, a televisão hoje mente.” (Umberto Eco) Em meio a uma pandemia, em que as pessoas se vêem obrigadas a estar em reclusão, as mídias se aproveitam para fazer sua lavagem cerebral; vejamos os programas de “reality show” que estão no ar no mundo todo (nada contra quem assiste de modo consciente). Mas para quê estão forçando a barra com esse modelo de programa? Isso mesmo, para desviar o olhar e a atenção da população dos problemas mais importantes, como, por exemplo, das medidas tomadas pelos responsáveis pela saúde pública de seu país. Tem surtido efeito tal estratégia? Sim! Milhares de pessoas se uniram à reprovação de atitudes de participantes de tais “realities”, mas se esqueceram de, apesar de seus governantes terem as mesmas características, se mobilizarem da mesma forma, para que o mal seja ceifado pela raiz. Paredão para os políticos? Quem dera! É mais legal fazer grupinho para cancelar um “influencer” do que fazer grupinho para se discutir política. Tenho saudade de um tempo em que existia o clube do livro (nem vivi esse tempo, mas sou saudosista). A arte era para embelezar o mundo e para compartilhar cada percepção de uma forma mais particular. Hoje, os mesmos recursos são para conquistar curtidas, “views”e seguidores. Não importa mais a razão de se fazer algo. Heidegger profetizou que “muito cedo a televisão, para exercer sua influência soberana, percorrerá em todos os sentidos toda a maquinaria e todo o alvoroço das relações humanas”. O que importa é o quanto você vai conquistar com suas ações. Valores? Antiquado! O negócio, agora, é desenvolver “fakenews”, para desequilibrar a balança da realidade. O que está em jogo, de verdade, é a manipulação dos números. Quanto mais cabeças eu tenho mais influência tem minha voz. E, com isso, mais peças no jogo eu movimento. Pobres bois-de-piranhas, pobres peões… Não tenho pena, mas acho um jogo sujo! Não vejo volta para essa fase do antropoceno. Já não temos mais tesão em mudar nada. Só seguimos o fluxo, que se manda. É mais fácil! Não gasta energia! Como cantou Gabriel, o Pensador: “A programação existe pra manter você na frente, na frente da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você.” E dessa forma, o “sapiens”, que poderia se tornar a espécie mais inteligente do planeta, está se tornando o pau mandado das Inteligências Artificiais (AIs) dos algoritmos. O “sapiens” já não sabe mais de nada…
Autoria: Leonardo Campos
Autores citados: Isaac Asimov, Umberto Eco, Heidegger, Gabriel, o Pensador