Em uma madrugada de inverno frio –
Cariocamente desconhecido,
A Cinelândia iluminada a desaguar sobre o Aterro.
Se ficaram atrás Museu, Teatro e Biblioteca,
Nessa confluência há um vazio,
De construção e de beleza; falha o urbano,
Onde ainda se pranteia o velho Senado.
Imposta uma composição estranha – de Obelisco, Chafariz e Ghandi,
Serve ela a fazer menos esdrúxulo esse frígido Rio de Janeiro.
Mas, é cedo! Glacial!
Se acalorar? Talvez na esquerda!
No fever do chá quente da Academia de tantas letras.
E, ao sorver a infusão, um perder d’olhos
na arte moderna e também da moderna arquitetura, que,
Soturnamente, protege o soldado desconhecido.
À direita? Quentar?
Sim! Pode-se ir à compra de sexo barato,
oferecido no ruborizar das estátuas da enjaulada Praça Paris –
Uma praça mais refletida, em essência, ao Bois de Boulogne.
Mas, aqui, tudo é sacro! Não existe pecado!
Tudo, devidamente abençoado e benzido,
Pois aos pés do singelo Outeiro, que reina mais majestoso,
Na calmaria gélida do fim da madrugada.
Então, derradeiramente, ter por obstáculo as ruínas;
O Hotel que foi Glória – agora esqueleto insepulto,
Pelas lambanças de mais um duvidoso brasileiro.
O que estará à frente? Por entre olhos
Se deparar com a enseada espremida pelos montes turísticos –
onde os barcos já não sabem a que ídolo de pedra reverenciam.
Ela oprime e indica necessidade de retorno.
Talvez, o melhor seja não seguir! Mas, parar! Girar o destino!
Já entorpecido pelas luzes da manhã
E pelo cheiro do mar em comunhão com o vento,
Somente resta virar pombo.
Voar até o raiar pleno de todo dia, dia todo!
Pairar sobre os jardins de Burle-Marx. Pairar!
E terminar vôo retornando sobre as pedras portuguesas,
Que se prestam a leito das mesas bambas,
Onde se acomodam as turmas de chopp do Amarelinho.
Ali, já pouco importam clima e hora,
E os copos gelados chegam, nas bandejas que circulam,
Pelas mãos dos garçons camaradas,
Sendo sempre solidárias aos risos e lágrimas dos cariocas –
Alguns da gema e outros nem tanto.
A Cinelândia acolhe a todos!
Autoria: Fernando Sá
Foto: flickr.com
FABIAN KRONENBERGER
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