HOUVE UM RIO DE JANEIRO!
“Cidade Maravilhosa/…/Jardim florido de amor e saudade/Terra que a todos seduz/…” (André Filho)
A escritora francesa Jeanne Mette, mais conhecida por Jane Catulle Mendès, em 1913, criou o bordão “Cidade Maravilhosa”, que acabou sendo a base de uma marchinha de Carnaval, em 1935, e a qual se tornaria o verdadeiro Hino da Cidade do Rio de Janeiro. Aqueles eram outros tempos! A beleza de uma cidade que convivia com a diversidade da arquitetura – do estilo colonial brasileiro até o máximo da “art nouveau”. Também era uma cidade marcada pela cultura. E não se restrinja tal visão à “Cinelândia”, que poucos chamam de Praça Marechal Floriano! Era o Rio de Janeiro das artes e da diversidade, sem preconceitos. Um “Rio”, quase de lava, que fervilhava sem misoginia com Chiquinha Gonzaga, Carmem Miranda, e outras cantoras da Rádio Nacional (Dolores Duran, Inezita Barroso, Zezé Gonzaga, Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, …). Uma cidade que aceitou e proclamou o talento de Rogéria (Astolfo Barroso Pinto) e Dercy Gonçalves. Um Rio Janeiro de rica literatura nas crônicas de Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Rubem Braga, e nas poesias de Cecília Meireles. Mas o Rio também tinha os malditos abençoados como Nelson Rodrigues e Millôr Fernandes. Na música? Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Edu Lobo, João Gilberto, … Dizer mais o quê? E havia todo um foco internacional na cidade. No Cassino da Urca, uma apresentação de Josephine Baker fez um jovem negro sonhar alto e se transformar no ícone brasileiro chamado “Grande Otelo”. Cadê essa Cidade Maravilhosa? Mas a questão agora não é o saudosismo. A pergunta que fica: O que aconteceu com a Cidade Maravilhosa? Primeiro foi o abate arquitetônico cujos marcos principais são a destruição do Palácio Monroe e a construção do monstrengo da Rua da Assembléia, n° 10. Esses foram sinais do “progresso” vindo com o falso milagre econômico da Ditadura Militar. Mas, então, tivemos a transformação dos cinemas em “igrejas”, que mais parecem cassinos religiosos, onde o valor das doações definem o tamanho da oração e trazem a maior ou menor probabilidade de milagres. Mas o jogo é proibido! São religiosos mais preocupados em julgar e perseguir do que em amar e conviver. Já não temos a música nem as demais artes. Agora, são os teatros que fecharam, mesmo antes da pandemia. Também já se vão as livrarias. Me lembro do comentário de Camus, quando em viagem ao Brasil, ao dizer que este lugar era um arranha-céu de vidro sem fundações. Parece realmente ter desmoronado e se destruído em pedaços. Mesmo o encanto e sedução aos estrangeiros e brasileiros parecem ruir. Hoje, as razões de visita ao Rio são outras e muitas delas são bem duvidosas. O Rio de Janeiro virou a terra dos escândalos e dos políticos presos. O presídio de Bangu disputa espaço turístico-jornalístico com o Pão de Açúcar, a Mesa do Imperador e o Corcovado. Que dor! “Ditosa a cidade em que se admira menos a beleza dos edifícios do que a virtude de seus habitantes.” (Zenão de Cítio) O Rio de Janeiro virou uma terra de novos-ricos arrogantes, cafonas, mal-educados e analfabetos funcionais, que cometem crimes que supõem fora do alcance da lei por suas condições econômicas. Como diz uma amiga: “Gente que entra no Copacabana Palace, cospe no chão e põe o pé na parede.” Ser carioca hoje é, acima de tudo, não aceitar ou se subordinar a qualquer regra, norma ou lei, seja da convenção de condomínio, seja do Código Penal. Adriana Calcanhoto, ainda que seduzida pelo Rio, em ato falho cantou: “Cariocas são tão sexys/Cariocas são tão claros/Cariocas não gostam de sinal fechado.” Outro dia um amigo contava que o pai dele tinha uma máxima: ao atravessarem qualquer rua o pai gritava: “- O carro nos viu, corra que ele vai tentar nos atropelar!” Isso é o Rio de Janeiro, hoje! Triste! Carros importados correndo pela Barra da Tijuca, dirigidos muitas vezes por seres que não conseguem ler os manuais técnicos do veículo. O problema não é a engenharia, mas o português! Se não forem traduzidos, lascou-se! A sensualidade da Garota de Ipanema acabou virando a dimensão das piriguetes correndo atrás de namoro com traficantes. “Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro.” (Nelson Rodrigues) A formação das favelas pelos escravos então recém-abolidos mostra hoje um desenvolvimento moderno para as comunidades de todas as etnias, que não conseguem ter dignidade como fruto do trabalho. Escravidão ampliada? Tão grande o problema que já não se resolve pelo bombardeio dos morros como proposto por um militar durante a Ditadura. Há gente até que acha que o Coronavírus veio resolver o problema. Acredite se quiser, já ouvi essa barbaridade sob a pomposa analogia da contaminação dos pobres com a teoria da evolução de Darwin. Não falta só empatia, compaixão, mas, também, vergonha na cara! Sobra a falta de saneamento básico, transporte público, saúde pública,… Educação? Melhor nem falar. A economia também se foi! Tudo é caro, principalmente pelos altos tributos que financiam a corrupção e as “rachadinhas” dos políticos. “Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro.” (Lima Barreto) – mais atual? Entendo quando ouço frases como: “A saída é o aeroporto!”, “Salão em fim de festa!”,… Mas dói! Uma cidade tão linda pela natureza, mas com um caos social, moral, político e econômico incomensurável. Quais as perspectivas? Lembro Millôr (“Na poça da rua/o vira-lata/lambe a lua.”), mas a modernidade de Gabriel, o Pensador, diz que o carioca vive perigosamente, para afirmar e perguntar: “Cristo Redentor/Braços abertos…/Jesus Cristo é carioca xará/Será?”
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Jane Catulle Mendès, Camus, Zenão de Cítio, Adriana Calcanhoto, Nelson Rodrigues, Lima Barreto, Millôr Fernandes, Gabriel, o Pensador
Foto: Pixabay.com
EliasSch
O Rio de Janeiro mudou muito!
Um grande erro cometido foi transferir a Capital do Brasil para Brasília! Houve um enorme gasto do dinheiro público e esvaziou o Rio
Recemos milhares de imigrantes, principalmente oriundos do Nordeste, sem ter a contrapartida de empregos decentes
Resultado: expansão da pobreza!
O Brizola fortaleceu o tráfico nas favelas, inibindo as incursões policiais!
Os políticos cariocas se deterioram em nível!
Como faria bem um Carlos Lacerda de novo ! Atualmente, só corruptos se candidatam
Em suma , somos o retrato cruel de um país em que reina uma corrupção generalizada e sem nenhuma punibilidade!
O Rio não é diferente dos demais Estados; e6 tão somente a vitrine do Brasil. Tudo no Rio , repercute nacionalmente
Não obstante, como carioca apaixonada, acredito que tudo possa mudar!
Que haja uma renovação política, com pessoas dignas e comprometidas com a qualidade de vida dos cariocas, é uma meta sonhada, e que pode ocorrer!
Maria, esse sentimento de tristeza pela crise que se abateu sob o Rio de Janeiro é comum entre os cariocas, mas também e em especial, essa alegria e esperança que nos move, acreditando em dias melhores. Obrigado pela sua participação! Continue nos seguindo e compartilhe com os seus amigos.
Gostaria de saber dos autores se as minhas observações em diversos postos têm sido úteis!
Deste já, agradeço
Maria, com certeza! Todas as postagens são encaminhadas aos respectivos autores. E para o projeto, é muito bom também! Essa é a ideia: promover a leitura e o debate…. Obrigada mais uma vez pela sua participação e continue nos seguindo e compartilhe com os seus amigos.