“Na mesma máscara negra/Que esconde teu rosto/Eu quero matar a saudade.” (Ze Keti)
Há muitos anos, na Terra Brasilis, que o ano só começa depois das folias de Momo, rei que perdeu as formas tradicionais curvilíneas para uma estampa mais fina e dançante. Bem! Na Terra Brasilis, o carnaval é aquele período em que o povo descarrega e recarrega suas energias movidos por samba, funk, axé, brega, forró, rock, agogô e muito calor. Desde sempre é assim, aquele corre e corre entre blocos, desencontros e fantasias. O ano incrível que se foi, mas se recusou a ir de todo, nos desafiou e impeliu a andar mascarados, no bloco do eu sozinho. O rei Momo não foi eleito, não teve entrega da chave da cidade nem mulata sambando lindamente; se ouviu o silêncio nas quadras de escolas de samba, onde até o surdo ouviu o silente decreto. Nesse mundo virtual de cancelamentos, foi mesmo cancelado o início desse ano, que segue o curso do ano anterior, bem no ritmo da incerteza. Foi conclamada a esperança como nossa primeira porta bandeira, mas deixada de fora, como registrou Dante diante do inferno: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”. Quantos carnavais foram cancelados e por quais motivos? Bem, não estamos vivendo o primeiro cancelamento, como me diz o Google. O carnaval já foi adiado por outras pestes e por morte de político, respectivamente em 1892 e 1912. Em 1919, a Gripe Espanhola se foi de forma tão espantosa como chegou, e o carnaval não chegou a ser cancelado ou adiado, mas foi o mais louco de todos os tempos, onde o povo foi para rua celebrar. Os dias de folia estão guardados no coração de tantos foliões e não tão foliões, mas ecoa o estribilho dos ‘não’ tão novos baianos: “Minha carne é de carnaval/O meu coração é igual/Minha carne é de carnaval/O meu coração é igual.”. Conheço um casal que se encontrou num carnaval, entre blocos, serpentinas e amores que duram apenas 4 dias. Se apegaram de forma teimosa e continuam pulando juntos há 30 anos. Festejam seu encontro anualmente, no Carnaval. Não celebram numa data fixa, mas se pautam no Carnaval para festejar seu amor. Esse ano decidiram reviver grandes carnavais e retiraram fantasias do armário, para espantar o cheiro de naftalina e mofo. “Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano.” Bem, Graciliano Ramos, miseravelmente o carnaval falhou esse ano para poupar vidas. O “aceita que dói menos” é aplicável nesse contexto, mas prefiro deixar como reflexão as palavras de Santo Agostinho: “Ninguém faz bem o que faz contra a vontade, mesmo que seja bom o que faz.”
Muito bom!!!
Ivne, que bom que você gostou. obrigada pela sua participação! Continue nos seguindo e compartilhe com os seus amigos.