“Maria, é o som, é a cor, é o suor / É a dose mais forte e lenta.” (Milton Nascimento)
Pedro acordava todo dia e sua roupa se encontrava passada, o café quente perfumava a mesa e sua marmita estava pronta. Perguntava para João: Cadê Maria?
A casa sempre amanhecia ao som de um canto retido. A vassoura nunca parava quieta e nem a esponja na pia. Teia de aranha? Sem chance!
O pó nunca tinha tempo de se instalar nos móveis e o varal de roupa parecia um salão de dança ao balanço do vento.
As panelas fumegavam e o aroma dominava a vizinhança sempre na hora certa. O sofá quase nunca era usado, a não ser por João.
As garrafas de água sempre estavam cheias e geladinhas na geladeira, assim como uma gelatina pronta para ser atacada.
As plantas no quintal eram regadas todos os dias e as folhas não tinham sossego para se tornarem um lindo tapete.
Apolo não tinha pulga e toda semana tomava banho. Era saudável e feliz. Vivia pulando no colo e lambendo as pernas de quem quer que fosse.
João ajudava nas tarefas e sua lição não atrasava. Banho nunca era motivo de discussão e acabava sem desperdiçar água – demorava às vezes, mas tudo bem.
A feira, o mercado, as contas, as reuniões na escola, os cursinhos e as aulas de esporte estavam em dia e sem atraso.
Não tinha uma roupa sem botão e sem cerzir. Todas dobradas ou no cabide, cheirosas e prontas para serem usadas. Gavetas organizadas por cor!
No fim do dia tudo estava organizado.
Quando Pedro voltava para casa a mesa do jantar estava feita. O cheiro do feijão abria o apetite de quem passasse perto.
Ao sentar à mesa Pedro perguntava para João: Cadê Maria?
João sempre respondia: Minha irmã está brincando de casinha.
Maria perdeu a mãe aos 12. Colocou em prática cedo o que aprendera para a maturidade. Cuida do irmão e do pai. E às vezes dela.
Quantas Marias para menos e para mais existem? Não sei fazer essa conta. Mas alguém deve saber – Cadê Maria?