“O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade podemos dar o nome de
autorrealização.” (Abraham Maslow)
Perspectivas sobre a Qualidade de Vida. Como melhorar a qualidade de vida por meio de organização? É preciso atender de forma consciente às necessidades. “Navegar é preciso, viver não é preciso” de Fernando Pessoa é certamente uma das mais brilhantes definições já erigidas envolvendo o conceito de vida. Ironicamente, cunhada por uma alma laureada em seu batismo (Fernando) como sendo uma pessoa pronta para a viagem, eis que recorrendo à etimologia tal nome, como uma contração de Ferdinando, é composto pelos elementos proto-germânicos: “ferð/fardiz/portis” (viagem) e “runa/nanthiz/naudiz” (necessidade, angústia, desejo), que invocam o poder de saturno. E, nessa vida, os oceanos da sociedade nos envolvem ao ponto de não mais identificarmos se dela consumimos ou se, por ela, somos consumidos. Assim como os ventos movem os navegadores ao oceano, o consumo nos move através da sociedade. É certo que, assim como os navegadores são talhados pelo mar, nossos hábitos e costumes são construídos pela sociedade. Nessa náutica, por vezes, a angústia nos consome e, por outras, nos lançamos à vida tal qual os portugueses, pelo ouro, se lançavam ao mar em ânsia por Gana. A ganância merece ser atentamente observada: enevoada, optimística, não nos permite enxergar com clareza a realidade. Focada na mística do destino, nos impede, por vezes, de reconhecer alguns perigos e as maravilhas que se encontram na jornada do hoje. Como ajustar as velas? Como atender às necessidades? Cada momento é ímpar, tem sua condição climática e seus ajustes náuticos, o que, por vezes, faz com que o barco enfrente ou seja levado pelo oceano. Cada momento de vida é particular e tem sua forma de condução. É imperativo, nessa jornada, a busca de tornar-se o timoneiro da vida, apaixonar-se por si, fazer de si o próprio ouro. Autoestima, alteridade e altruísmo andam de mãos dadas. Todos os momentos compartilham os mesmos elementos básicos, seja no mar – com a água, o vento, o sol, o barco, seja na vida – com as necessidades fisiológicas, de segurança, de afeto, de estima e de autorrealização. Instintivamente evocam-se essas necessidades humanas ao desejar que se tenha saúde, paz e felicidade. Nisso, talvez escape à percepção consciente da existência de um encadeamento entre essas necessidades – pois, sem a saúde, não se tem nem paz e, muito menos, felicidade. Diante disso, a psicologia humanista de Abraham Harold Maslow procurou um norte na tentativa de encadear essas necessidades humanas. Em sua tese, as necessidades mais importantes são centradas no indivíduo: (i) Necessidades Fisiológicas, vinculadas ao nosso corpo, como a alimentação, o sono e os cuidados para com a saúde; (ii) Necessidades de Segurança, que trata da proteção e da estabilidade na vida, como a moradia, o emprego, a educação e o transporte. Já as necessidades secundárias englobam o coletivo, ou seja: (iii) Necessidades Sociais, envolvendo a necessidade de afeto, de se relacionar com as pessoas, como com os filhos, com a família e com os amigos; (iv) Necessidade de Estima, compreendendo a autoestima e a dignidade, que, em exemplo, quando em desequilíbrio, podem levar à apatia ou, quando em demasia, a um desnecessário aprofundamento no trabalho. E, por fim, centrada na autorrealização, a (v) Necessidade da Realização Pessoal, que floresce em campos embebidos pela autonomia, independência, ausência de preconceitos e justiça. Pelo exposto, reconhecer o vínculo das necessidades humanas com consumo não seria novidade. O oposto é o que vale chamar à atenção, pois, em meio a tanto ruído, talvez não se perceba que muitas das necessidades nem carecem de dispêndio, principalmente aquelas que trazem harmonia para pessoas com quem convivemos e que nos são caras. Importante reconhecer que alguns desejos imediatos arriscam tornarem-se vazios de significado em um segundo momento, quando as emoções conduzem ao calabouço, a que a vaidade abre as portas. Ou, mais claramente, cuidado com os objetos de desejos. Conferir às necessidades humanas um real significado é essencial para a vida. Como reflexão, na jornada do hoje, como estão os ajustes de velas e de leme? Qual é a condição que a nau enfrenta nesse momento? Lutando em tormenta ou sendo empurrada por gentis alísios? Existe algum plano de viagem escrito, uma carta, para orientar o timoneiro, ou segue este pela rota visual? Quanto de energia, tempo e dinheiro devem ser alocados em cada uma das necessidades? Após precisar exatamente em que ponto da jornada e em que condições se encontra a nau, para que se possa dormir em paz, é sempre importante lembrar que, no fim, “navegar é preciso, viver não é preciso”. Que seja proveitosa a viagem!
Autor: Carlos Frederico Silva da Costa Filho
Autores citados: Abraham Harold Maslow, Fernando Pessoa.
Foto: pixabay.com
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