“O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. (Mahatma Gandhi)
A pandemia nos fez olhar o mundo pela janela. Do lado de cá, observamos a resiliência do planeta em todos os sentidos. Quando da primeira onda e do início do “lock down” ou isolamento social, conforme o caso, a diminuição da atividade humana com menor quantidade de carros circulando e a redução das emissões de CO2 certamente contribuíram para o planeta respirar melhor, especialmente nos grandes centros urbanos. Foi um respiro de alívio, ainda que temporário – resultado de uma lição de incerteza que possibilitou um ganho ambiental globalmente positivo. Mas, por outro lado, expôs a fragilidade humana involucrada no imediato do cotidiano das cidades e das relações interpessoais, que, a partir de então, passaram a ser virtuais e condicionadas às injunções do isolamento, sem falar do aumento do lixo doméstico. Os efeitos dessa balança de ganhos ambientais e perdas emocionais irão perdurar por longo período. Com certeza, há contrapartida, no nosso comportamento, nas nossas escolhas e no nosso dia a dia! Isso nos incita a olhar o mundo, espero, a partir de um “novo normal” significante e capaz de provocar a proliferação de invenções solidárias. A nossa relação está sendo transformada pelo tamanho do efeito que a pandemia causou, e causa, em cada um de nós. Precisamos ser mais humanos e encontrar humanidade nas pessoas, empatia, generosidade e respeito com a natureza. Isso porque perceber a teia que nos une no mundo e se relacionar com ela tem impacto coletivo. Com o advento da denominada “segunda onda”, que já gera o retorno das práticas de isolamento social e “lock down” em diversos locais, a questão posta se repete – tempo em que voltamos a elocubrar sobre o pós-pandemia que, agora, ficou para mais adiante. Diante do cenário exposto e de suas implicações, será possível traçar nova forma de enxergar o meio ambiente, na medida em que, espero, nos possibilitaremos estar mais próximos uns dos outros e valorizarmos a natureza, que está em nós e nos rodeia. Acho que vivemos um momento de ressignificação, que se traduz em aprendizado e novas oportunidades! A forma de entender o mundo, ao nosso redor, e sua ecologia interligada, diz muito das nossas escolhas e espelha a necessidade das mudanças coletivas. Rousseau dizia que “é dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso sentí-lo”. Desejo que os efeitos do isolamento inspirem em nós vontade de sermos diferentes, a partir de hoje e de amanhã! Já! E, com a mudança de comportamentos e de atitudes, no pós-pandemia, teremos a chance de refletirmos muito além de nós mesmos, com a possibilidade de rompermos o paradigma para uma sociedade mais sustentável e ecologicamente correta e consciente. A pandemia nos possibilita reconhecer a fragilidade humana diante da vida, sendo possível, assim, surgir um processo de reordenação dos valores e do seu grau de importância, além da reflexão sobre os modos de vida. Eu arriscaria dizer, que é possível, após o momento vivido, encontrarmos seres humanos mais engajados com uma ação empática a compartilhar um real sentido de responsabilidade universal e solidariedade humana. Boff diz que “as tragédias dão-nos a dimensão da inumanidade de que somos capazes”. Mas também deixam vir à tona o verdadeiramente humano, que habita em nós, para além das diferenças de raça, de ideologia e de religião. E esse humano em nós faz com que juntos choremos, juntos enxuguemos nossas lágrimas, juntos oremos, juntos busquemos a justiça, juntos possamos construir a paz e juntos renunciemos à vingança. Somente assim passaremos por isso bem. Sem dúvida, isso pode gerar oportunidade de estarmos mais atentos e envolvidos com as questões ambientais e permitir um significado de vida mais perdurável. Recentemente, li um texto de Morin (“Lições do Coronavírus”), o qual mencionava a desigualdade social no isolamento e no quanto este exemplo pode nos servir como lente, para percebermos os extremos exíguos em que estamos inseridos e as condições discrepantes que expõem as bases do mundo no qual vivemos. O desafio, nesse contexto é tentarmos superar o abalo, as COMPLEXIDADES INVISÍVEIS e fiar de forma coletiva intenções colaborativas. Me atenho ao preâmbulo da Carta da Terra, ao lembrar que “a proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado”. Aí estão princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. E para concretizar esses princípios, considero necessário nos tornarmos pessoas mais responsáveis umas com as outras. É preciso, urgentemente, abrir-se para a provocação da solidariedade diante do mundo que desejamos. É necessário! No entanto, perceber o essencial da existência – é a base do processo de transformação para uma sociedade sustentável. Afinal, “um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível” (Mahatma Gandhi).
Autoria: Danielle Abud
Autores citados: Gandhi, Morin, Leonardo Boff, Rousseau
Foto: Riccio Leon