TECNOLOGIA E HUMANIDADE
“A ciência torna o homem erudito – ao passo que a filosofia torna o homem sábio.” (Huberto Rohden)
A função da tecnologia está em melhorar a vida do homem, como um meio, mas vemos a vida do homem sucumbir sob a subserviência à tecnologia. Aliás, Roger Revelle diz que “nossa tecnologia passou à frente de nosso entendimento, e a nossa inteligência desenvolveu-se mais do que a nossa sabedoria”. O avanço tecnológico nas últimas 3 décadas se deu de forma impressionante, com profundos impactos na capacidade de ser e de se comportar do homem. Se a tecnologia já fizera Einstein, no passado, supor que “tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade”, a grande transformação científica, ocorrida na mudança do milênio, virou causa de efeitos conjunturalmente inquestionáveis e, por vezes, sociológica e filosoficamente questionáveis. A submissão do homem aos meios, tornando-os fins, certamente atenta contra aspectos de humanidade. A palavra humanidade vem de “humus” (terra, origem), enquanto a tecnologia advém da ciência como fruto da evolução do intelecto humano. Por lógica, a origem é prévia à evolução, e exatamente, quando prepondera a tecnologia sobre a humanidade, tal sequência (criação-desenvolvimento) se rompe ou se inverte. O grande questionamento sob a ótica moral seria: a tecnologia se sobrepõe por ser mais importante que a humanidade ou ela se sobrepõe pois garante ganhos econômicos a determinados grupos, por vezes oligopolizados? A opção do homem pela tecnologia em detrimento à humanidade é livre escolha comportamental ou orientação mercadológica? Quando vemos pessoas, por exemplo, discutirem sobre celulares da “Apple” e da “Samsung” já temos uma dica de resposta para tais perguntas. Toda essa tecnologia, por vezes, não estimula o homem, mas lhe gera conformismo. Há uma letargia no pensar, no se movimentar, no se relacionar, … Quase volto atrás ao lembrar, e entender radical, o posicionamento de Simone de Beauvoir: “… o homem foi em todo o lado arrasado pela tecnologia, alienado do seu próprio trabalho, feito prisioneiro, forçado a um estado de estupidez”. Mesmo o mago da tecnologia Bill Gates reconhece que “a primeira regra de qualquer tecnologia utilizada nos negócios é que a automação aplicada a uma operação eficiente aumentará a eficiência. A segunda é que a automação aplicada a uma operação ineficiente aumentará a ineficiência”. Portanto, a tecnologia, por melhor que seja, terá bons resultados onde puder ser eficiente, mas não em todos os campos, e há campos onde deve primar a humanidade e não a tecnologia. Humanidade é fim e tecnologia é meio; qualquer inversão disso transborda em desequilíbrio lógico. A escravidão ao celular, à rede social, ao carro, ao aplicativo de relacionamentos, à Wikipedia,…, faz com que estes meios sejam superiores ao real prazer da comunicação, da imagem, da viagem, do conviver, do aprendizado e seu aprofundamento,… Outro dia, assisti ao resgate de uma mulher, após um acidente de trânsito, e ela não chamava por familiares ou amigos, e sim perguntava e explicava: “- Onde está meu celular? Não vivo sem ele!” Uma das maiores provas do processo eventualmente destruidor da tecnologia sobre o homem é o fim dos empregos. Trabalhar é a grande imposição ou castigo ao homem por força de sua expulsão do paraíso, seja no caso de Adão e Eva ou da abertura da caixa de Pandora. Hoje, a tecnologia não só facilita o trabalho, mas finda com postos de trabalho (também aqui ajuda ao capital que a vende como mais importante que princípios humanistas). O saudoso Betinho (Hebert de Souza) lecionava que “a tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário”. Preciso! A tecnologia pode auxiliar no encontro da vida boa, mas, se fora do seu contexto lógico, pode talvez gerar no máximo uma duvidosa boa vida; duvidosa pois não há vida boa na escravidão, na ansiedade da nova versão tecnológica, no desespero pela aquisição da nova tecnologia ou seus equipamentos, na sofreguidão de estar no topo da onda tecnológica, … Às vezes, paga-se por uma tecnologia que está além da necessidade do adquirente, ou seja, se joga dinheiro fora (mas quem lucra com a tecnologia adora). Lembro agora das absurdas filas de dias e noites, na porta de lojas, para aquisição de um novo modelo de celular em lançamento. Assisti a isso, nos Estados Unidos, chocado pelo ridículo ao qual as pessoas se expõem, sem perceber que se portam como autômatos e não seres livres, mas acreditando que são os escolhidos do deus tecnológico. Besteira! Somos humanos, do “humus” viemos e a ele voltaremos, seja na visão bíblica (do pó ao pó), seja na visão afrorreligiosa pela lama de Nanã. A tecnologia não altera isso. Talvez de forma dura e pragmática, Steve Jobs apreendeu a realidade e cunhou a seguinte frase: “Nascemos, vivemos por um momento breve e morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando muito este cenário.” A tecnologia nunca será capaz de superar a empatia, a misericórdia, o amor, a justiça, a amizade, e nem mesmo os prazeres originados de tais sentimentos, ou seja, a humanidade. Ela pode prolongar a vida, mas não vence a morte. Pense bem qual sua opção nessa dicotomia e o preço que você paga com essa escolha. Seja humano e livre!
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Huberto Rohden, Roger Revelle, Eisntein, Simone de Beauvoir, Bill Gates, Hebert de Souza, Steve Jobs
Opto por um Mundo menos tecnológico e mais humano!
Certamente que muitos setores melhoram sua eficiência com os avanços tecnologicos !
Não Obstante, a criatividade vem sendo inibida e o mundo está se esquecendo dos aspectos humanos!
Está havendo um grande aumento de desemprego em função desses avanços
Hoje , diminuímos muito nossa capacidade matemática! Basta apertar botões e tudo se obtém
Acho fundamental que as pessoas revejam esse desenvolvimento, face à deterioração do seu próprio empenho!
O equilíbrio torna-se extremamente necessário, para Não nos tornarmos robôs, e Não virmos a perder nossas qualidades essenciais!
Fraternidade, bondade e respeito ao próximo jamais podem ser olvidados!
Perfeito, Maria. Sem humanidade não há vida boa, na visão do Projeto Omnisversa. Seu posicionamento está em diapasão com o texto comentado. Passaremos seu comentário ao autor. Continue sempre conosco.