POR QUE FALAR DE LIVROS?
“É bem necessário serem os homens amantes da sabedoria para investigarem muitas coisas.” (Heráclito)
Como leitor compulsivo, e em tempos de pandemia, minhas visitas às livrarias virtuais são mais que frequentes. Além disso, tenho o hábito de recomprar livros dos quais gostei, e presentear amigos. E aí, nessas visitas, sempre me deparo com os livros digitais! Nesse momento percebo que pertenço ao que Emmanuel Carneiro Leão chama de Galáxia de Gutemberg. Gosto do folhear das páginas, de manusear o livro enquanto verto o café forte, de fazer marcações, sejam em cores ou escritos, do cheiro do papel, de guardar pequenas lembranças entre as páginas, como flores caídas de orquídeas, … Essa questão da preferência entre o digital e o “livro real” (impresso), lembra um pouco a discussão sobre o erro que seria falar de filósofos pré-socráticos, pois não seriam filósofos e sim pensadores originais. Estes remontariam à origem de alguma coisa na e da realidade, enquanto os filósofos refletiriam a origem de alguma coisa em outra coisa. Eu talvez seja um leitor arcaico, diante do gosto pelos livros impressos, que continuam sendo meu único sinal do vício da materialidade. Cada vez que penso em desfazer minha biblioteca (em torno de 3000 volumes) me dá crise de ansiedade. “A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.”(René Descartes) A leitura me apossou de bem novo. Eram gibis, livros infantis, enciclopédias, crônicas e poesias, … Nunca houve uma preferência entre clássicos, modernos e contemporâneos. Comportados e malditos! Os livros me possibilitaram pensar, sonhar, viajar, … Livros são companheiros. Marguerite Duras enunciava: “Caminhais em direção da solidão. Eu, não, eu tenho os livros.”. Voltando a Heráclito – pensador original e um dos inspiradores do estoicismo – “pensar é a maior coragem, é a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor. … Pensar reúne tudo.” Os livros fazem pensar! Por isso, em sociedades, nas quais se querem autômatos (ou idólatras) e não pensadores, se inviabiliza o acesso ao livro. No Brasil, vimos isso nas fogueiras de livros das Universidades públicas, à época da ditadura, e na tentativa recente de tributações específicas sobre a aquisição de livros. Temos, aqui, o absurdo do denominado “dólar livro”, que é mais caro que o dólar turismo. Parece algo medievo, como o Index ou os evangelhos proibidos, mas, afinal, a ignorância permite a nulidade ou o vazio individual. “… pensar e ser é o mesmo.” (Parmênides). Além disso, conhecemos os slogans pela ignorância: “ler é chato”, “livro não é gênero de necessidade”, “para que ler?”, “manequim, ator e jogador de futebol ganham mais do que quem estudou”, … Nada disso é sem motivação! A ignorância é uma benção aos detentores do poder, nos momentos históricos, e a prova disso são os candidatos e resultados habituais das eleições brasileiras. A democracia não é perfeita – ainda que sendo o melhor modelo que temos, mas seu aperfeiçoamento se mostra mais vigoroso em nações com condições econômicas e educacionais mínimas para a generalidade da população. E, daí, o Brasil está bem longe! Busca-se negar ambos aos brasileiros, principalmente em épocas de populismo, seja de esquerda ou de direita. Os livros são uma evolução histórica. Eles não são um objeto remoto como pretendem os moderninhos da leitura digital. No início, leia-se na Grécia Antiga, eram manuscritos enrolados, chamados de ”volumina”, sendo transporte, manuseio e peso um entrave. Assim, eram resumidos, sendo os extratos denominados “compendia”. E como poucos sabiam ler ou não tinham acesso aos livros, o teor era transferido de forma oral, principalmente por citações, muitas vezes alteradas por falhas de memória (quem conta um conto aumenta um ponto). Carneiro Leão ensina que “uma citação serve para mostrar ou convalidar o próprio pensamento num confronto com o pensamento alheio.” Churchill dá testemunho: “É bom ter livros de citações. Gravadas na memória, elas inspiram-nos bons pensamentos.” Hoje, as pessoas acreditam que têm conhecimento pela “wikipedia”, desdenhando dos livros. Canso de ver impropriedades na falsa Barsa dos tempos modernos. Sim, sou daquela época em que as famílias, mesmo de classe econômica inferior, tentavam adquirir uma Enciclopédia Barsa ou colecionavam fascículos semanais da Enciclopédia Conhecer, para que seus filhos pudessem ter uma melhor educação e apoio nos estudos. Vendiam-se livros de porta em porta. As pessoas não têm mais livros em casa … e uma casa sem livros diz muito sobre aquele espaço e sobre quem lá mora. Outro dia, em uma revista de arquitetura e design de interiores, notei que o único livro, constante de uma série de ambientes detalhadamente decorados, era um livro de fotografias (sob um abajur). Com mil perdões e sem querer desmerecer profissionais que amo, como Sebastião Salgado, ver fotos não exige saber ler e um livro não se presta a isso. Dizem que essa era a razão do sucesso da revista Caras, além da alta dose de curiosidade e inveja de seus leitores. Piada à parte, percebam, no Brasil, a dificuldade de leitura das pessoas das mais diversas classes sociais, a falta de vocabulário delas, a dificuldade na concatenação de ideias, a impossibilidade de elaboração e defesa de opiniões fundamentadas, … Isso deflui da falta de livros! Então, não reclame que a qualidade da música, do cinema, do teatro e mesmo das telenovelas caiu! As bancas de jornais são repositórios de isqueiros, bebidas, biscoitos, … A leitura continua imprescindível. “Há livros de que apenas é preciso provar, outros que têm de se devorar, outros, enfim, mas são poucos, que se tornam indispensáveis, por assim dizer, mastigar e digerir.”. (Francis Bacon). Um aviso final: as livrarias, reais e virtuais, estão cheias de conhecimento e material para o bem estar da alma, para o alcance de uma vida boa. Vá visitá-las!
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Heráclito, Emmanuel Carneiro Leão, René Descartes, Marguerite Duras, Parmênides, Winston Churchill, Sebastião Salgado, Francis Bacon
AA MINHA ESTÓRIA SOBRE OS LIVROS , COMECOU PRECOCEMENTE
AOS 12 ANOS, JÁ LIA CRIME E CASTIGO , CEM ANOS DE SOLIDÃO, ETC
EMILE ZOLA, BALZAC , HEMINWAY , E VÁRIOS AUTORES CÉLEBRES, HABITAVAM NA MINHA MESINHA DE CABECEIRA
ÀS VEZES , VIRAVA A NOITE LENDO ALIÁS, VÁRIAS VEZES
NUM PAÍS COMO O BRASIL, EM QUE POUCO SE INVESTE EM EDUCAÇÃO, É EXTREMAMENTE DIFÍCIL DE SE CULTIVAR O HÁBITO DA LEITURA
TODOS NÓS SABEMOS, QUE OS GOVERNANTES NÃO TÊM INTERESSE NISSO
COMO MANTER UM POVO ESCRAVIZAO ÀS MAZELAS SOCIAIS, SE ESSES MESMOS EVOLUIREM ?
RESTA-NOS A ESPERANÇA DE QUE ISSO MUDE , E QUE TODOS TERÃO UMA EDUCAÇÃO DE NÍVEL
DESSA FORMA , OS LIVROS TERÃO O SEU DEVIDO LUGAR NA SUA HABITUALIDE
OBRIGADA FERNANDO, POR ABORDAR UM TEMA DE TÃO PROFUNDA NECESSIDADE!
Maria, obrigado por seu comentário. Quem lê acaba por ter diferencial, e você é prova disso. Uma das propostas deste projeto é trazer curiosidade às pessoas e, assim, estimular a leitura dos textos aqui publicados, bem como de textos de autores citados nessas publicações. Precisamos, de alguma forma, transformar a esperança da vivência da leitura pela população em realidade. Como? Certamente as ações individuais serão necessárias, pois pouco se espera na esfera pública. Saudações, e continue nos acompanhando.