ÁGUA – A BASE DE TUDO
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“A água se ensina pela sede” (Emily Dickinson)
Charles Baudelaire dizia que “o homem que só bebe água tem algum segredo que pretende ocultar dos seus semelhantes”. Mas a preocupação com a água, aqui, é outra. Acordando às 5h da manhã, abri a janela e o quarto banhado com a energia daquele dia ensolarado, céu azul, sem nuvens… Sem hesitar, era tempo de caminhada! No meio do caminho, o encantamento com o reflexo do sol no mar, que me invade e paralisa. Por alguns segundos eu fiquei ali imóvel, olhando, como se tivesse sob hipnose. Atletas, ginástica, meditação, um vai e vem de pessoas buscando trocar energias e se preparar para o dia! Mas, de repente, o vento me tira daquele estado de estupefação. O cheiro podre de esgoto estava no ar… a beleza do mar escondia a morte que ele carregava nas suas entranhas. E esta morte não tinha apenas um assassino; gerações e gerações contribuem para a poluição de um recurso finito essencial às nossas vidas. O vento continuava a trazer o cheiro podre, que me deixou muito mal, e me fez refletir no quanto somos egoístas e na nossa falta de mobilização para o enfrentamento do problema. Sentei e divaguei! 71% da superfície do nosso planeta é coberta por água e nosso corpo é formado de 50 a 70% desse mesmo elemento. Não se preocupar com a água é um processo suicida. A utilização e tratamento da água são partes de uma questão tão inerente à vida humana, quanto o é o ar que respiramos. Em se tratando de água, no espectro individual, há quem sofra pela escassez ou pela falta de qualidade. “A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba.”(Guimarães Rosa) Sob um espectro mundial, existe um volume estável de água, mas que varia sensivelmente quando olhamos sob o foco das regiões do planeta. Assim, em torno de 97,5% de toda água é salgada, enquanto 2,5% é doce (1,72% está congelada, 0,75% é subterrânea e 0,02% faz parte plantas e animais). Sim, apenas 0,01% de toda água do planeta está nos rios, lagos e represas! Sendo recurso natural essencial para a vida e diante do crescimento do uso sem consciência, a água pode acabar. Isso é matemática e não ideologia! Portanto, poluição, degradação ambiental e mudanças climáticas, provocadas pelo homem, significam um risco. 13% das reservas de água doce do planeta estão no Brasil, sendo 70% deles na Bacia Amazônica. Aqui, também é grande o desperdício, e nosso país tem um papel ímpar e uma responsabilidade grande no manuseio deste recurso. A estimativa mundial é de que 1,7 milhão de pessoas sofram com a escassez de água. Leia-se escassez não só por falta, mas também por questões de qualidade, cujo problema envolve, em regra, disposição inadequada de resíduos sólidos. Mas, o que parece estranho é a falta de percepção de que o problema da água não afeta somente o ser humano, ele pode inviabilizar o uso ou tornar impraticável a economia, como elemento impossibilitador das atividades de produção, sejam agrícolas, comerciais ou industriais. Outra questão está no atraso do enfrentamento do problema, pois se pode chegar a uma situação em que o tratamento, tanto em termos técnicos quanto financeiros, seja inviável. Não só o homem desperdiça, se colocando em risco, como as atividades econômicas fazem mal uso ou agridem o ecossistema, inviabilizando seu próprio futuro econômico. A demanda por água vem crescendo. Segundo a ONU, aproximadamente 5 bilhões de pessoas podem sofrer com a falta de água em 2050!!! No Brasil apenas metade do esgoto gerado é tratado, 35 milhões de pessoas não têm acesso à água potável. Como garantir água para todos? Teríamos que investir no saneamento básico. Seria necessário investir, anualmente, R$ 21,6 bilhões. No entanto, devido à crise financeira que o país enfrenta e questões eleitoreiras, o investimento está cada vez mais reduzido. Existem algumas iniciativas para promover a democratização da água, mas os brasileiros não contam com um processo estruturado e com os investimentos necessários na esfera governamental. Gestão ambiental é responsabilidade social, individual e corporativa, que importa em sustentabilidade, na acepção ampla do termo, a partir do seu caráter evolutivo. Consequentemente, garantir água para todos não deixa, então, de ser uma visão financeira própria de corporações com missões abrangentes e responsáveis. A sustentabilidade está em um tripé financeiro, social e ambiental, e o desenvolvimento sustentável significa atender às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações e das atividades econômicas futuras em atenderem suas próprias necessidades e existirem. Essa gestão ambiental exige critérios que perpassam por equilíbrio (social, financeiro e ambiental), longo prazo, mensuração e possibilidade de execução e exigência de cumprimento. Dessa forma, proteção de meios hídricos, racionalização de consumo, estratégias de reuso, tratamento, …, seja nas atividades agrícola, residencial, comercial e industrial, são premissas de sustentabilidade efetiva, quando se fala de água. Precisamos da água para o homem e para o desenvolvimento econômico – nossas indústrias também consomem água nos seus processos. Mas a água precisa ser devolvida ao meio ambiente depois de passar por um tratamento adequado. Todos os seres humanos têm o direito a acessar água tratada. A combinação do homem não consciente, que desperdiça o recurso, com empresas não comprometidas com o desenvolvimento sustentável, cujas atividades econômicas fazem mal uso da água, acaba por inviabilizar o futuro sustentável. Volto à realidade, deixando de divagar. Crianças brincavam à minha volta, as gargalhadas inocentes me fizeram pensar no futuro que estamos plantando para as novas gerações. Novamente o cheiro podre era trazido pelo vento. Naquele momento percebi a aliança do vento com a água. O pedido de socorro da água foi trazido por aquela brisa… O que está sob meu controle que poderia mudar a situação? Olhei para a areia da praia e me senti como um pequeno grão. Pequeno, mas único! Talvez! Era tarde, o sol quente começava a incomodar… Me levantei, para ir embora. Olhei para o mar com um sentimento diferente. Naquele passeio eu estabeleci um comprometimento consciente com um futuro sustentável, com a promessa de praticar o consumo consciente de água.
Autoria: Venina Velosa da Fonseca e Fernando Sá
Autores citados: Emily Dickinson, Charles Baudelaire, Guimarães Rosa
Foto: pixabay.com @nastya_gepp
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Amei a sensibilidade que os autores tiveram nesse texto
A água é indispensável à vida e infelizmente é finita !
Não me conformo como um país tão promissor como o Brasil, haja falta de saneamento básico para todos! E pior , num nível alarmante
Os governantes nunca tiveram a inteligência de entender, que essa falta , afeta a saúde de muitos, onerando ainda mais o nosso SISTEMA DE SAÚDE
Sobraria mais recursos para o aprimoramento desse SISTEMA, e mais importante, melhoraria a qualidade de vida de muitos
Devemos usar a água sem desperdício e os Governos devem dar primazia a um processo de dessanilizacao aprimorado .Os recursos naturais aumentariam consideravelmente
Ações socias e propaganda governamentais, devem ser efetuadas na conscientização coletiva, do aproveitamento racional do consumo de água
Não devemos nos esquecer que grande parte dos brasileiros, infelizmente, não tiveram acesso à uma boa Educação
Maria, agradecemos seu comentário e concordamos. O Projeto Omnisversa busca trazer reflexao e curiosidade pelo saber. Sem essas caracteristicas as pessoas não fazem escolhas boas para elas próprias. Governos são escolhas, que deveria ajudar a propiciar uma vida boa às pessoas. Continue nos seguindo. Obrigado.