“Um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade”. (Esopo)
Relações familiares estão longe de serem simples, o que se resume em expressões como “família é Karma” e “família é complicado”. Dito isso, fica fácil ver que, em muitos casos, tais relações já eram emocionalmente virtuais. Mas, em tempos de COVID e isolamento social, as relações familiares acabaram se tornando literalmente virtuais… E, aí, só resta constatar o alívio de uns, restando as “lives” para os demais. Gente!, como eu e minha mulher ficamos com o coração apertado … Tudo mais agrava quando temos netos, um já chegado e outro chegando! O que fazer? E aí vem a providência divina trazendo um vazamento para o apartamento da minha filha, acompanhado da queda de parte dos azulejos da cozinha. Com o Pedrinho** chegando em setembro, a obra se fazia urgente, e surge o drama: onde ficar durante uma semana… ainda mais no meio da Pandemia? Acabamos chegando ao consenso de que seria melhor a jovem família (filha, genro e neto e barriga) vir para cá! Vamos poder botar os papos em dia! Certo? Mais do que isso, vamos poder revitalizar uma instituição aqui em casa, que é o “Nhoque da mama”! Quem é de família italiana entende bem o que estou falando. E aí eu me pego pensando nas notícias que vejo na mídia em geral, tratando este momento como “Pãodemia”, falando do aumento do consumo de vinho e da Rita Lobo, que está “bombando”, na TV e no site “Panelinha”. Até eu me meti a cozinhar, dando origem a um “Penne ao Funghi”, que não é de se jogar fora… Acreditem! Parando para avaliar este novo contexto, vemos a volta de valores que se perderam no meio da correria metropolitana, nos engarrafamentos da Lagoa-Barra e no dia a dia afogado em metas e busca de resultados. Perdemos a conversa durante as refeições, coisa que meus tios franceses sempre estimularam, pois, se era para comer correndo, diziam eles, que fosse uma baguete. Para eles, se sentou à mesa, reserve ao menos duas horas! E ai de quem tentar acelerar o processo caseiro, ou o garçom do restaurante, pois será sonoramente ignorado. Mas, voltando ao nhoque, vale falar antes do molho de tomate. Com carne de peito, e bastante gordura, pois, para a turma da bota, molho com carne magra ou carne moída é molho de preguiçoso. A panela, de ferro fundido, começa cheia, e recebe uma generosa porção de peito bovino com textura adequada, para ser reduzido ao longo de três horas, chegando a menos da metade da panela. O ponto é aquele em que ele gruda, grosso, em um pedaço de pão nas bordas, antevendo o ato final de limpeza do prato com uma fatia de pão, conhecido por “fare la scarpetta”. Aliás, essa bela expressão tem sua origem nos dialetos da Itália meridional. Citam-se duas origens possíveis: a primeira, que é uma espécie de metáfora e compara o sapato (scarpetta) que é usado de forma arrastada nas ruas com o pão que se passa no prato, e, a segunda, por outro lado, refere-se à palavra “escassa” (Scarsetta), que indica às pessoas a consumirem tudo o que está lá, geralmente insuficiente. Mas há outros que, em vez disso, dão uma explicação ligada à visualização do pedaço de pão macio que, empurrado com o dedo para coletar o molho, lembra um sapato com a perna e o pé que o veste. Lembro que a etiqueta não proíbe “la scarpetta”, mas o procedimento lascivo-culinário deve ser feito apenas em ocasiões informais e usando um garfo; nunca as mãos! Mas ao final, com ou sem “scarpetta”, abençoadas são as oportunidades de sentarmos à mesa, toda a família, e compartilharmos nossas histórias novamente. E nada melhor ilustra esse texto-sentimento que a foto da “Panela com molho” de minha esposa e companheira Cátia Galotta.
Maurício de certa forma me lembrou o saudoso Apicius. Da pandemia fez uma limonada. Do desconforto de uma obra fez uma osteria para receber um neto. Pela reunião familiar encontrou inspiração e coragem culinária. Bem, aqui entrou a Nona.
Maurício transitou muito bem do contexto atual, pandêmico, complexo e paradoxal como uma relação familiar pode ser, ainda mais se houver raiz italiana, como de forma caricata se desenha. Família à qual o autor se dirige e descreve, num momento soberbo que é a chegada de mais um neto, para então resgatar as tradições da nona e do desenrolar de um nhoque ao “ragu de manso”.
Com detalhes que vão desde a descrição da receita, a valorização do momento à mesa, seja francês ou italiano, como ocasião para se apologisar os encontros e a convivência, sob a luz da degustação de um prato, cujo ingrediente principal é o amor e a dedicação de quem o prepara, até a explicação do termo e a orientação da prática da scarpetta.
Maurício, só faltou a harmonização e dizer que a sobremesa foi tiramisù ou zuppa inglese.
Fabio, obrigado pelo comentário. Levaremos a conhecimento do autor. E muito nos honra que prossiga acompanhando os textos publicados no OmnisVersa. Equipe OmnisVersa.
Maurício de certa forma me lembrou o saudoso Apicius. Da pandemia fez uma limonada. Do desconforto de uma obra fez uma osteria para receber um neto. Pela reunião familiar encontrou inspiração e coragem culinária. Bem, aqui entrou a Nona.
Maurício transitou muito bem do contexto atual, pandêmico, complexo e paradoxal como uma relação familiar pode ser, ainda mais se houver raiz italiana, como de forma caricata se desenha. Família à qual o autor se dirige e descreve, num momento soberbo que é a chegada de mais um neto, para então resgatar as tradições da nona e do desenrolar de um nhoque ao “ragu de manso”.
Com detalhes que vão desde a descrição da receita, a valorização do momento à mesa, seja francês ou italiano, como ocasião para se apologisar os encontros e a convivência, sob a luz da degustação de um prato, cujo ingrediente principal é o amor e a dedicação de quem o prepara, até a explicação do termo e a orientação da prática da scarpetta.
Maurício, só faltou a harmonização e dizer que a sobremesa foi tiramisù ou zuppa inglese.
Bem vindo Pedro.
Parabéns Maurício.
Fabio, obrigado pelo comentário. Levaremos a conhecimento do autor. E muito nos honra que prossiga acompanhando os textos publicados no OmnisVersa. Equipe OmnisVersa.