DEUS EM SEGUNDO LUGAR! TALVEZ TERCEIRO?
“Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira.” (Martinho Lutero)
No início do século XVI, apesar de uma divisão interna de pensamento entre Tomistas e Agostinianos, (visões teológicas distintas) era inequívoca a centralização do domínio espiritual (sobre as pessoas) e político-administrativo das nações (reinos) pela Igreja Católica, na Europa. Um poder temporal que se arrastava desde a Idade Média, mas que já não mais agradava aos reis (surgimento do Absolutismo), que queriam a si, e não dividir ou entregar à Igreja, os impostos recolhidos; aos camponeses, que se sentiam escravizados e espoliados ao trabalharem nas vastas propriedades da Igreja, sustentando bispos e abades; à burguesia, que não conseguia se desenvolver diante das defesas da Igreja contra o lucro e usura, atrapalhando o capitalismo que surgia. Ressalte-se, aqui, que, por outro lado, havia uma prática de comercialização de bens eclesiásticos, principalmente indulgências, e obtenção de privilégios, o que gerava desconfiança de todos com relação ao clero. John Wycliff, em 1381, já promulgava ideias contrárias à venda de indulgências, exploração dos camponeses e principalmente quanto à intolerância sobre a liberdade de consciência – essas ideias e seus livros acabaram condenados pelo Concílio de Constança. Já o padre tcheco Jan Huss atacou iguais práticas da Igreja e morreu queimado em fogueira. Mas, em 1415, foi um monge agostiniano (Martinho Lutero), enfatizando que a Igreja apenas se ocupava do poder temporal e do controle sobre reinos, pessoas e sobretudo do pensamento das pessoas, quem rompeu a unidade do Cristianismo no Ocidente. Sendo o Cristianismo o ponto central aqui, o conceito de verdade deveria seguir o parâmetro dado pelo substantivo fundador, ou seja, o próprio Cristo, que, nas palavras atribuídas a ele, teria dito: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Disso teria se afastado a Igreja Católica ao ver dos protestantes. Lutero fixou, na porta de uma Igreja, 95 teses criticando as práticas da Igreja Católica e do Papa. O texto, que seria uma mensagem para estudo dos alunos de Lutero, se espalhou e encontrou eco no inconformismo existente. Lutero se impôs contra o Papa Leão X, bem como foi protegido pela nobreza alemã após a “Dieta de Worms”, que o fez herege. Sua doutrina foi fundamentada (Confissão de Augsburgo por Melanchton) e não faltaram guerras religiosas até 1555. Os reis se viram mais independentes do controle católico pela “Paz de Augsburgo”, ao tempo em que os princípios de Lutero foram sendo acolhidos com diferentes características, e mesmo ampliados, como por Calvino (Doutrina da Predestinação – “Deus jamais encontrará em nós algo digno de seu amor, senão que Ele nos ama porque é bondoso e misericordioso.”), na França, Holanda, Dinamarca, Escócia, …, surgindo os huguenotes, presbiterianos, puritanos. A reação da Igreja (Contra Reforma), conduzida por Inácio de Loyola e sua “Companhia de Jesus”, sob o argumento da fé e do ensino como aspectos importantes, também fazia ressurgir o Santo Ofício com seu Tribunal da Inquisição. Essa reação limitou a expansão do protestantismo e teve seu ápice com o Concílio de Trento, com a participação das Igrejas Católica e Ortodoxa e dos Luteranos. Este concílio procurou trazer disciplina à Igreja Católica, porém também afirmou sua soberania e autoridade para matar quer por abençoar guerras quer pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição). Entendido esse contexto, podemos perceber a preocupação mais conservadora e fundamentalista dos pentecostais tradicionais (Deus em primeiro lugar). Ocorre que, a partir da flexibilização niilista de Nietzsche (“Até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens”) quanto a comportamentos e princípios morais, a religião, mais democratizada pelo Concílio, se torna mais acessível como foco por oportunistas, mal intencionados, degenerados e todo tipo de possíveis líderes questionáveis. Essa usurpação da fé, e mesmo de Deus e Jesus, por alguns neopentecostais e seitas, tornou-se um risco social e político. “Aquele que começa a amar o cristianismo mais do que a verdade acabará por amar a sua seita ou a sua igreja mais do que o cristianismo, e depois por amar a si mesmo mais do que qualquer outra coisa.” (Samuel Coleridge) Fato é que, independente da época, ou da quantidade de seguidores, o distanciamento de Deus e dos princípios de fazer o bem ao próximo observados no cristianismo (mas que ocorre também em outras religiões), sempre termina em morte. Podemos lembrar aqui, dentre outras, as tragédias geradas por James Warren “Jim” Jones (900 mortos), Marshall Applewhite (39 mortos), Park Soon Ja (32 mortos), Edmund Creffield (estupros, assassinatos e suicídios ligados a ele), Joseph De Mambro (74 mortos em 3 países), David Koresh (76 mortos), Joseph Kibwetere (778 mortos) e Charles Manson (diversos crimes efetuados pelos membros da Igreja, inclusive assassinatos). Qualquer um destes personagens se desvia diametralmente da mensagem de Cristo: “Eu vim para que tenham vida e tenham em abundância.” Esses exemplos de tragédia deveriam servir de alerta e gerar ações dos governos para informar a sociedade qual é o modus operandi desses mercadores da fé em busca de poder. Em grande parte, essas Igrejas e Seitas envolvem, em primeiro lugar, a formação de um “invejável” patrimônio por seus líderes, que possuem propriedades imóveis, barcos, aeronaves, e vivem de forma pouco austera, apesar do que pregam. Marginalmente, também buscam, na maioria das vezes, poder que possibilite práticas que vão da exploração, escravidão e volúpia ao sadismo. Se colocam acima de Deus, ainda que se apresentem como Seus representantes, e acabam por fazer o que bem lhes aprouver. Pregações e práticas não mantêm qualquer diapasão. Aqueles erros individuais em outras instituições religiosas (católica, pentecostais, ortodoxa, …) se tornam o objeto final de algumas dessas seitas e grupos neopentecostais. E neste caminho, encontram terreno fértil, para obtenção de fiéis, entre miseráveis, desesperados, gananciosos, pessoas flexíveis em princípios e valores, … Nas palavras de Cristo, narradas por São Mateus: “Cuidado com os falsos profetas. Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os conhecerão pelos que eles fazem. Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos.” (Mateus 7:15-16) Por serem instituições econômicas e capitalistas não querem concorrência e não convivem com outras religiões, onde vêem potencial de arrebatar “ovelhas dizimistas” para seus rebanhos. Buscam o oligopólio da fé! Por vezes, se cartelizam, visto um grande “turn over” de fiéis, já que o desesperado não atendido por uma seita logo busca outra como salvadora. Deus já vem em segundo lugar! “O pastores carnais que usam meios carnais para trazer homens carnais para suas igrejas, continuarão a usar meios carnais para manter estes homens carnais em sua igreja carnal.” (Paul Washer) Ocorre que, esse movimento autoproclamado religioso, em países com alta taxa de corrupção como o Brasil, encontraram a política como uma nova fonte de renda, ficando Deus, agora, em terceira posição! Os rebanhos significam votos, votos significam eleição, e mandatos eletivos significam maior riqueza pelo desvio de dinheiro público ou privilégios a si e seus bens. Todavia, assim como o poder gera a sensação de inexistência de limites e punibilidade, a mídia – seja empresarial ou social – faz públicas as atrocidades e bestialidades praticadas. “A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço.” (Martinho Lutero) Assim, começamos a ver assassinatos, corrupção, abusos sexuais, assédios, … e todo tipo de práticas não condizentes com valores e princípios ensinados por Cristo, seja por seus líderes, representantes ou, muitas vezes, por crentes manipulados. A política tradicional gerou o campo fértil que hoje dá uma cara nova e perigosa à atividade político-administrativa de ordem pública, onde, sem qualquer ideologia, representantes eleitos por essas seitas e grupos, de forma unida e em bloco, estão com quem está no poder, lhes garantindo cargos para os quais na maioria das vezes não estão qualificados, mas que possibilitam meios de desvios e obtenção de privilégios. Ainda que com os apoiados não se afoguem quando o barco vai à pique, eles estarão lá, novamente, para o alcance de suas más intenções, junto ao próximo pseudotimoneiro. Temos visto isso se repetir no correr das últimas três décadas. E o plano político expansionista desses mercadores da fé cresce. A mistura das igrejas, cultos e seitas com a política assusta cada dia mais, diante do que se vê na prática. Karnal lembra: “Talvez seja melhor afirmar que o tartufismo, a falsa santidade utilizada como instrumento maquiavélico de poder, seja um defeito grave entre pastores, bispos, pais de santo e outros.” Como garantir a representatividade política para o bem comum, neste cenário? Enquanto não respondemos a esta pergunta, que, em primeiro lugar, Deus nos salve!
Autoria: Fernando Sá e Alessandro Antunes
Autores citados: Martinho Lutero, Jesus Cristo, João Calvino, Nietzsche, Samuel Coleridge, São Mateus, Paul Washer, Karnal
Sou totalmente contrária à eleição de religiosos para fins políticos!
Há muito, que a religião vem sendo exercida com fins financeiros !
Buscamos nas religiões, respostas à nossa insegurança e valores nos quais queremos seguir
Sempre fui forte pela imensa fé que tenho em Deus
Atualmente rezo sozinha e não encontro mais meu porto Seguro nos Templos !
ESPERO que Deus mude esse cenário pifio em que se encontra as religiões
Sigo sempre , ” AMAI AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO ” e dai sigo as minhas ações!
Maria, agradecemos seu comentário. Continue nos seguindo, o que muito nos honra. Equipe OmnisVersa.
Maravilha de artigo!
Aula de História e de Ética que nos mostra ao longo do tempo como foram se formando e firmando esses grupos, que se agarraram ao poder, a qualquer preço, manipulando valores religiosos junto à população mais frágil, independente de princípios e que hoje têm forte presença nas casas legislativas do Brasil,com influências nefastas nas principais votações de interesse da sociedade.
Parabéns por mais esse alerta/denúncia , de forma inteligente, objetiva e equilibrada!
Francisco, agradecemos seu comentário. Continue nos seguindo, o que muito nos honra. Equipe OmnisVersa.
Bom . A Igreja Mesmo Antes De Cristo Já Adotava O Poder Absoluto , Tanto Que O Único Imbróglio Citado Por Cristo Foi O Comércio Na Frente Da Igreja .
E Este Conceito Persiste E Nunca Se Perdeu . Comprar Seu Lugar No Céu .
A Luta Pelo Poder Dividiu O Cristianismo , Mas Em Todas Suas Formas Persistem No Mesmo Erro . Pregar Um Céu Não Para Todos , Mas Apenas Para Os Eleitos Que Assim Aceitam Seu Dogma .
Só Não Entendi Onde O Pai De Santo Que É Um Nome Pejorativo , O Correto Seria Babalorixá / Yalorixa ( Homem / Mulher ) , Pois Na Cultura Africana Não Se Aplica Este Conceito De Um Lugar Ao Céu , Onde A Natureza Considerada Pontos De Forças Dos Orixás São Cultuados E Não Explorados .
É Um Texto De Conceito Histórico Que Poucos Entendem E Podem Compreender. Ensinaram As Crianças A Temerem As Bruxas , Mas Nunca As Ensinaram A Temer A Igreja Q As Queimaram . Isto Tem Que Ser Explorado .
Braga, agradecemos o seu comentário e pedimos perdão se lhe ofendeu o uso do termo Pai de Santo. Ele certamente foi utilizado por ser coloquial. Teremos maior cuidado da próxima vez. Por favor, continue acompanhando o OmnisVersa e nunca deixe de oferecer seus comentários, que, além de bem vindos, servirão na melhoria do projeto e estímulo aos colaboradores e demais leitores.