“A tentação mais perigosa: não se parecer com nada.” (Albert Camus)
Pensa-se que é óbvio que você é você! Como ser outra coisa? Clarice Lispector tem um poema intitulado “Se eu fosse eu”, relatando: “Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia.” É interessante refletir sobre quem estamos sendo, quem gostaríamos de ser, e porque não somos o que gostaríamos de ser. Você, caro leitor, é conduzido pelos que estão a sua volta ou por si mesmo? Você faz o que sente vontade? O que define o seu ser mais íntimo? São perguntas que somente podem ser respondidas por você. Nas palavras de Freud: “Olhe para dentro, para as suas profundezas, aprenda primeiro a se conhecer”. É inegável que a vida é feita de escolhas! Você pode escolher ser moldado ou moldar! “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.” (Jean-Paul Sartre) Assumir quem somos não é uma tarefa fácil, pois implica no fato de que você não vai agradar a todos e o sentimento de que, de alguma forma, estamos sendo rejeitados, dói! Todavia, ser rejeitado por ser real é melhor do que ser querido por ser falso. A autonomia da vida pessoal é um passo muito importante para o autoconhecimento, aprendendo a não aceitar menos do que se merece. Tem-se o costume de, em todo fim de ano, fazer-se uma “limpa” no guarda-roupas, tirando o que não se usa e o que não serve mais, … E com a vida é assim; é necessário fazer uma limpeza do mesmo jeito que se faz no guarda-roupas no fim de ano. Perceber-se-á que algumas pessoas não combinam, outras que representam quem você era, não o que é. Pode-se pensar isso como sendo algo ruim, mas não. Ruim é deixar alguém que não te agrega nada ocupar o lugar de alguém que agregaria. Sim, eu sei! Assim como é difícil se desfazer de algumas roupas, se afastar de pessoas é tão difícil quanto, mas ao fazer isso, ao tomar as rédeas da sua vida e decidir o que vale ou não seu tempo, você se torna autônomo. “Todas as vitórias ocultam uma abdicação” (Simone de Beauvoir). Você vai aos poucos se tornando quem realmente é; deve-se ter em mente que do mesmo jeito que decidirá quem vale, ou não, seu tempo, também haverá pessoas que farão isso com você e está tudo bem. A busca do autoconhecimento nos leva a perceber que só temos controle da nossa vida, podemos apenas ser verdadeiros, quem não gostar de quem somos, não merece o nosso tempo tanto quanto aquele que decidimos que era melhor ter longe. Ser protagonista é estar ciente de que somos únicos e não vai existir ninguém igual a nós, quem não gostar vai estar perdendo um ser único. Mas aí está justamente a beleza da coisa, as escolhas que fazemos é o que vai nos deixando únicos e especiais. Um psicólogo, uma vez, me disse que não precisamos ser amados, porque ser amado não depende de nós, o que depende de nós é amar. Quando percebemos que não precisamos ser amados, tira-se aquele peso de que se é preciso agradar a todos e, sem esse peso, torna-se mais fácil ser quem realmente somos e quem realmente queremos ser. A autonomia e o autoconhecimento são caminhos para sermos quem realmente somos e, mais que isso, podermos enxergar a beleza do que isso significa. Não existe ninguém igual a você! Não existe ninguém igual a mim, e não existiu ninguém igual a Clarice. E jamais existirá! As escolhas, que a vida lhe dá, só dependem de você. A sua realização só depende de você! É inegável que a vida é feita de mudanças e que as mudanças dão medo. Leandro Karnal, um dos grandes filósofos brasileiros, afirma: “Coragem não é capacidade de fazer tudo sem medo, é a capacidade de pegar seu medo e levá-lo à ação”.
Autoria: Brenda Freitas
Autores citados: Albert Camus, Clarice Lispector, Freud, Sartre, Beauvoir, Karnal