BANDOLEIROS
“Certo é, que é triste, o fim de quem aceita o desamor, como coisa natural.”
Eita historinha bandida, de Marias e Josés, ou seria de Pedros & Anitas,
Também poderiam ser de Franciscos e Augustos, ou de Angélicas e Carlas!
Pequenina ou comprida, com flores e adornos,
Ou carestia sofrida,
Falamos de histórias de casais, amantes, confidentes, errantes
E, às vezes, boêmios, patifes ou cúmplices de instantes.
Entretanto, o que mais incomoda, nessas histórias reais,
É ver casais, de amplas formas e ideais, sucumbirem ao acaso,
À rotina e às dores mais naturais.
Não falamos dos que não se amam, pois,
A estes, qualquer fim é colheita bem apropriada,
Na glória da rica solidão a dois sob qual forma:
Uma tragédia, uma comédia ou uma abnegação mitigada.
Certo é, que é triste, o fim de quem aceita o desamor, como coisa natural,
Justificando no século rápido e civilizado, onde, como civis,
Temos que aceitar e essa lei acatar:
“O amor acabou … Nada mais a declarar!”
Mas, há sempre uns rebeldes bandoleiros, que assaltam essa desordem atual
E roubam a cena de Romeu e Julieta, para, viverem felizes dos tesouros de uma vida –
Uma vida inteira de amor verdadeiro, sincero e real.
Bandidos, bandoleiros, rebeldes? Atores ilegítimos com certeza!
Policiais querem prender seus sentimentos, pois a sanção é clara,
Já que a lei declara que seu convívio deve ser confinamento.
A lei diz que eles devem conter-se, pois amor é crime,
Assim como companheirismo e respeito são contravenções.
Fidelidade e contentamento são ignóbeis citações!
Então, os bandoleiros fogem dessas polícias da lei moderna;
Não aceitam e não vivem as leis do desamor atual.
São duplas que se bastam e se agregam e, por isso, pecam,
À luz desse novo sermão.
Na tirania do moderno, hoje,
Tudo pode ser amor, sem que nada seja amor real!
Pode-se ficar junto, mas não se pode ser feliz e suficiente.
E se ocorrer de ser feliz que não seja declarado, e
Pode-se ser casal, mas, neste caso, que ninguém seja amado.
Mas, os bandoleiros, novamente, se revoltam, e exigem liberdade contra a tirania,
Para, “a dois”, buscarem o verdadeiro e real amor sonhado.
Viver assim, agora, os fazem amaldiçoados,
E são olhados com estranheza!
E, ao cometerem o seu crime e contravenções,
Os amantes bandoleiros são rechaçados!
Quando passam, os profetas do desamor contra eles balançam cabeças
E vaticinam que, com certeza, tanto amor é só fachada.
Se sofrem diariamente, pois é essa a natureza de que são feitos,
Já os que pela lei vivem declaram, regulam,
Juram e justificam toda forma de desamor.
Por vezes, declaram que amam a tudo e todos, mas
Em total estranhamento negam o amar a dois.
Nesta tirania do moderno, vale o código do estilo,
Que talvez nada mais seja que a ruptura do que dera certo.
Estilos de vida, óticas financeiras, subliminares preconceitos,
tudo legalizado na premissa do “faça tudo do meu jeito!”.
Aqui, não há perdão, pois perfilam o macabro ódio
E a disfarçada indiferença. São quilômetros
Os 10 centímetros de distância
No espaço de dormir no mesmo colchão.
Preza-se a lei da multiplicação dos corpos. Mas, tudo vale a pena!
Um código formado por leis que acabam por matar o amor,
e garantir lamento, dureza e horror, … e,
Só ao final, se encara, já sem solução, a dificuldade da solidão.
Transformada a vida a dois em um só, ainda que com mais de dois,
A verdade profetiza funeral de caixão aberto,
Onde o casal do desamor, por ato inconsciente vela,
Sorrindo para irreconhecíveis flores artificiais,
O que deveria ser pranto pelo amor vilipendiado.
As regras contra o amor, ao contrário de dar liberdade,
Garantem a desunião e a indiferença que a tudo permeia!
Mais uma vez, os iludidos, se julgando transformadores,
Terão servido aos tiranos que ganham com o desamor.
Por isso, contra todas essas leis, os bandoleiros se rebelam.
A cada dia vivem seu amor de um jeito diferente:
Mesmo que a manhã esteja cinza, roubam o sorriso
A partir de um dia ensolarado que viveram a dois;
Mesmo que o dinheiro tenha acabado, gargalham o riso
Roubado do momento cúmplice do pão já dividido;
Contam as rugas, em quase competição, na percepção
De mais um ano em conjunto celebrado;
Mantêm a audição, quando roubam o ruído
daqueles suspiros de paixão do começo de tudo.
E, no final, sabem que nunca esquecerão daquele olhar,
Que iluminou um o coração do outro,
E que equivaleria ao chamamento de “meu amor!”.
Não se atrelam a leis, agem, revelam e desnudam a vida para todos,
Mas fogem. Pois os agentes do desamor
Fizeram do perdão o imperdoável, e
Do domesticável o indomável.
Os bandoleiros com coragem atravessam o mar
Da escuridão e da incerteza, apenas seguros porque as mãos estão dadas.
Quem segura a mão do outro não solta porque o ama,
E assim roubam ao medo, quando de pé restam serenos,
Em paz no meio do furacão…
E contra o amor, são vistos aqui e ali
Relatos soltos sem consistência, argumentos frágeis,
Proclamações apaixonadas pela indiferença,
O rompimento da evolução humana em prol do comportamento das bestas.
E a perseguir os bandoleiros, se levantam, então,
Os exércitos da final destruição, para aniquilar o amor.
Usam da morte, da doença, da dor, da algoz senilidade,
E mesmo do dinheiro.
Todos querendo aniquilar o amor.
Pode-se perguntar qual o perigo representado pelo amor,
Que tanto lhe desejam o fim!
Na nossa história inicial, tomaram a vida de José e Maria ficou viúva.
Mas, pela lei do desamor, os bandoleiros deveriam sofrer mais.
As leis e os policiais exultam,
ao dispensarem Maria no cárcere da senilidade,
Sem perceberam que, quem é bandoleiro mesmo,
Faz sobreviver o amor a tudo; e lá está vovó Maria
roubando lógica e razão, ao olhar um velho boné,
apertá-lo contra o peito, e dizer:
“Como é bom te amar José!”
Autor: Alessandro Antunes da Silva