Na varanda do velho cinema, sentado,

Em uma claudicante cadeira de ferro,

E o olhar no relógio.

Chega ou não chega?

No cruzar de pernas

Treme o mármore marcado

Que serve de tampo à mesa.

A xícara tilinta, deslizando sobre o pires,

Para esparramar, sem forma, a borra fria de café.

Vencido o susto da roupa suja,

Olhar na praça.

Vem ou não vem?

Mãos que se entrelaçam 

E se espalmam, 

Derrubando os guardanapos

No chão poeirento.

Olhar na janela francesa da varanda!

Há outra entrada ou não?

O relógio anda lento,

O relógio corre veloz!

Apesar da brisa,

Uma sofreguidão pela falta de ar.

Esse é o lugar certo ou não?

Um garçom recolhe a xícara

E limpa a mesa com má vontade.

Saudade de um cigarro

Que esconda tanta frustração.

Por que acreditei que viria?

Pernas trêmulas, olhos marejados,

Uma certa vergonha para cruzar o salão.

Olhos fugidios na sensação de ter plateia

E ser picadeiro.

Por que não veio?

O espaço externo é enorme,

Parece um desafio, uma tentação.

O teatro grandioso e iluminado

Como um farol a orientar

Passos trôpegos como

Um barco ao cruzar o mar revolto.

Como fazer para não lacrimejar?

E no trânsito louco e engarrafado,

Dentro de um táxi amarelo e barulhento,

Alguém em atraso se pergunta até quando,

No Café, ele poderá esperar?

Autoria: Fernando Sá