“Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar…” (Gilberto Gil)
A fé, basicamente falando, é uma certeza interior. Necessariamente positiva! Estimulante! Uma sensação de conforto e segurança. É aquela sensação de que, independente do que esteja acontecendo no nosso momento presente, tudo vai ficar bem no final. Ela é algo que nasce e é cultivado dentro de nós, ainda que, muitas vezes, seja necessário um estímulo externo para tal, aquele impulso a mais. Mas, ela depende intrinsecamente de nosso próprio esforço em acreditar em tudo o que foi citado no começo dessa conversa. Ter fé é crer! A fé está presente em todos os seres humanos, portanto, faz parte de todas as religiões. Existe fé até em quem diz não crer. Mas, nossa fé nem sempre é uma herança de família. Nem sempre encontra eco dentro de casa, ou dos que nos rodeiam e, eventualmente, nos amam. Mas é um elemento locomotor na nossa vida. Obviamente que, por ser uma característica humana, às vezes, se torna um elemento oportunista de manipulação. As pessoas podem ser levadas à liderança de outras por estímulo da fé. As pessoas podem se tornar submissas pelo mesmo motivo. Também podem desenvolver uma fé oportunista, usada somente em casos de desespero, como último recurso antes de uma derrota. O clássico: “não custa tentar, né…?” Eu creio que a fé necessite de um exercício diário, da repetição, da constância, do hábito, para que exista, ou se manifeste, “milagrosamente”. Para que se alimente e então possa nos alimentar! É uma troca, um giro de energia. Não adianta, pontuando com um exemplo bem específico, que, de repente, todos se voltem às religiões afro, mais precisamente aos Orixás Omulu/Obaluaê – os Orixás das doenças contagiosas, e consequentemente de seus poderes de cura, quando, até então, eram tidos como uma espécie de “patinhos feios” no panteão afro (com perdão da opinião própria), em comparação com os badalados Ogum, Xangô, Iansã, Oxum e Iemanjá – Orixás louvados pela beleza, porte, propriedade, em razão do momento. E aí, esses novos fiéis vão inundando as redes sociais com preces, pedidos de ajuda, novenas, imagens, pela ocasião da pandemia. Pessoas de várias religiões, num momento bem específico, descobriram a existência dos dois Orixás, e tiveram sua curiosidade aguçada por eles, e para eles direcionada. Eles (Omulu e Obaluaê) devem ter até se surpreendido com tanto assédio. A fé não pode ser pontual. Não pode ser do tipo “me machuquei e basta pedir para a mamãe dar um beijo que vai passar…” Isso não é fé no poder curativo de nossas mães; isso é a transferência do problema para que elas o resolvam no nosso lugar. E vale o mesmo com relação a Omulu/Obaluaê. Eu não devo ser levado a buscar a fé só quando tenho um problema, e, então, vou numa igreja, faço uma promessa, para que tudo seja resolvido, … e adeus! Ter fé é um estado de espírito. Ter fé é 24 horas. Ter fé é, mesmo quando o que você pediu, o que você precisava ver urgentemente resolvido, não acontecer por algum motivo, mas seguir adiante dizendo, a si mesmo, que está e estará tudo bem. “Pois, eu tenho fé!”
Belíssimo texto. A fé é um exercício diário e não pode ser moeda de barganha para aquilo que precisamos ou pedimos.
A fé é um direito de todos, que deve ser respeitado não importa sob que crença ela seja exercida, Toda religião que serve ao bem é boa.
Realmente um exercicio diario. vamos caminhando no exercício…..
Renata, obrigado pelo comentário. Contamos com suas pertinentes reflexões em todas as publicações do Projeto omnisVersa.