ESTÁ NA PELE OU EM VOCÊ?
“Tudo muda quando descobrimos que os diferentes, são também iguais “. (Silvio Almeida)
“Na sua pele negra escrevem-se os versos, Na expressão de seu negro sorriso, a poesia. …” O início desse texto só poderiam ser os versos de Nina Costa, em Pele Negra, ainda que a inspiração de o redigir seja outra. Em recente participação no Programa Roda Vida, que merece ser assistida (https://www.youtube.com/watch?v=L15AkiNm0Iw), Silvio Almeida tratou do assunto principal de sua obra mais marcante, ou seja, o racismo como um problema estrutural. O autor fala sobre necropolítica e lembra que o racismo sempre acaba em morte. O racismo estrutural mostra como esse mal se espalha de forma interdisciplinar pela economia, direito, educação, política, … Além disso, o racismo invade o imaginário social e acaba chegando à denominada normose. Concordo com isso, quando, recentemente, em razão do caso George Floyd, ouvi alguém justificar o brutal assassinato pelo fato de que a vítima teria passagens delituosas. O brasileiro, branco diga-se de passagem, que fez o comentário esquece que, na Europa e EUA, ele não seria considerado aceitável como indivíduo a integrar a autodenominada supremacia branca. “Qual a diferença entre falta de humanidade e atitude? Nenhuma, pois ambas colaboram para falta de amor e compaixão ao próximo.” (Bob Marley). O mais grave é o crescente posicionamento racista por negros com ataques aos movimentos anti-racistas, alguns inclusive ocupando cargos que os titulam como responsáveis por lidar politicamente com o problema do racismo. Mas isso se explica na lição de Malcolm X, quando explicitava que “muitos negros da chamada classe superior estão tão convencidos em impressionar os brancos, mostrando que são “diferentes” dos outros, que não percebem que estão ajudando o homem branco a manter sua opinião desdenhosa a respeito de todos os negros”. Obviamente que, em um país de 55% de indivíduos negros, não existe desenvolvimento econômico sustentado se você não tratar da questão racial. Se esta população negra não tiver poder aquisitivo e inclusão econômica, está comprometido o conceito do próprio capitalismo de consumo. Portanto, as empresas precisam pensar o racismo, para garantir uma estabilidade econômica para elas mesmas. Sendo assim, racismo não é uma questão meramente comportamental. Dessa forma, o tratamento da questão passa por políticas públicas e ações privadas. Ocorre que, os movimentos de direita que ventam hoje, dentro de uma definição política dos mesmos, entendem que a sociedade será mais bem organizada se os direitos individuais tiverem prioridade sobre os direitos de todos, mas o tratamento do racismo passa pela coletividade. Então, tais movimentos de direita, que já têm grande dificuldade de manter um diálogo amplo com a sociedade, ficam cegos à questão racial, ou entendem que a solução passa pela segurança pública. “O sucesso não tem a ver com quanto dinheiro você ganha, mas com a diferença que você faz na vida de outras pessoas” (Michelle Obama) e isso exige que as pessoas, verdadeiramente de bem, sejam anti-racistas. Há muito mais negros brilhantes que negros bandidos, ao contrário do que nos faz crer a mídia ou como agora profetizado por “youtubers” de duvidosa qualificação intelectual. Precisamos paralisar essas máquinas de formação de um imaginário social contra os negros. “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.” (Angela Davis) O problema é que o tratamento do racismo é conceitual e abstrato como se fosse um problema de outra área, por exemplo, educadores falam de racismo, mas nem sempre o encaram como realidade dentro de suas escolas, e assim vai. Esse tratamento do racismo, que foge da visão estrutural, gera muitas vezes uma inação ou justificativa de inação por parte de negros de grande capacidade realizadora. Jogamos fora ou empurramos como perda um largo potencial de brasileiros, que são negros. Precisamos posicionar e valorizar essas pessoas, pois isso é parte não só da luta contra o racismo, mas da construção de um país melhor sob a ótica da economia, da distribuição da justiça, da qualidade da educação, da sua formatação cultural, … O racismo não é meramente um problema comportamental. Precisamos ver as pessoas pelo caráter, e não pela cor da pele, e sermos capazes de amá-las . “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” (Nelson Mandela) Nunca consegui entender desgostar de alguém por sua cor, e sou muito feliz por isso. Vejo pessoas belas em todas as raças, e não com a visão da beleza negra como se fosse uma exceção. Vejo pessoas íntegras em todas as etnias e não negros de alma branca. Tenho profunda admiração pela música com origem na tradição e ancestralidade negra que é parte da humanidade tal qual a música de Bach, Mozart ou dos Beatles. “Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.” (Martin Luther King) Tendo a concordar com Milton Santos quando diz que “a má índole associada à falta de educação leva ao racismo, ao preconceito e até a marginalidade”. O racismo nos faz depararmo-nos com uma indústria que se beneficia economicamente dele, e isso passa pela indústria das armas, do vestuário, de certos bens exclusivos de consumo, … O movimento negro, no Brasil, ainda que sem lideranças individuais de massa, tem sido muito importante por ações e realizações de inclusão social, educacionais, humanitárias, … Sob o aspecto político, eleger políticos negros só ajudará se eles tiverem uma agenda de política pública contra o racismo. Não podemos voltar à época em que, impunemente, Oliveira Vianna declarava a “evolução do povo brasileiro” a partir do branqueamento social nem conviver, ainda, com o que Joaquim Nabuco chamou de “grande obra da escravidão” – a existência de um senhor de engenho adormecido dentro de cada brasileiro. Todavia, o grande passo inicial para o fim do racismo está na educação familiar, lembro da frase de Gabriel Pensador (“E de pai pra filho o racismo passa, em forma de piadas que teriam bem mais graça se não fosse o retrato da nossa ignorância, transmitindo a discriminação desde a infância. E o que as crianças aprendem brincando, é nada mais nada menos do que a estupidez se propagando.”) e sugiro a leitura de “Pedrinhas Miudinhas, de Luiz Antônio Simas. Lembremos que a luta contra o racismo não é uma luta dos negros, mas das pessoas de bem. Os negros hoje precisam quase que priorizar sua resistência, para sobreviver. “A bondade nada sabe de cores, credos ou raças. Todas as pessoas nascem iguais.” – Abraham Lincoln
Autoria: Fernando Sá e Leonardo Campos
Colaboração: Flávia Salgado, Marcia Siqueira
Autores citados: Silvio Almeida, Nina Costa, Bob Marley, Malcolm X, Michelle Obama, Angela Davis, Nelson Mandela, Martin Luther King, Milton Santos, Joaquim Nabuco, Gabriel Pensador, Luiz Antônio Simas, Abraham Lincoln
Concordo plenamente que a MELHOR forma de evitar o racismo, vem da nossa educação em casa ! Uma família de bem , passa para os seus filhos, a realidade de que somos todos iguais
Infelizmente , no Brasil, a população pobre é composta na sua maioria de afrodescendentes
Isso dificulta sua ascensão social, face à fraca EDUCAÇÃO PÚBLICA que temos
É inegável que aqueles que desfrutam de melhores condições financeiras, sofrem menos segregação
Não obstante, acho que o mundo moderno tem mostrado a ignorância de ser racista !
Texto muito bem elaborado e abrangente ! Parabéns aos autores!
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