O Tao Te Ching (Dao de Jing), aqui denominado “O Livro do Caminho e da sua Virtude”, é um dos antigos escritos chineses (cerca de 600 a.C.), contendo provérbios relacionados ao Tao (caracter chinês para caminho) e sendo inspirador para diversas religiões e filosofias (Taoísmo e o Budismo Chan, inclusive sua versão japonesa o Zen). Ele indica o Tao como a fonte e origem de toda existência. O Tao seria o conhecimento intuitivo da “vida” que não se conceitua, mas se aprende, ou apreende, mediante a experiência de vida real, cotidiana (o caminho seguido). Mais que um caminho, o Tao é o “absoluto”, cuja divisão gerou os opostos/complementares yin e yang, Assim, o Tao é invisível sem ser transcendente. Ademais, sua onisciência tem a característica de ser humilde, pois o Tao envolve a virtude. Portanto, as pessoas devem ser verdadeiras e sinceras sob pena de, com uma conduta artificial, contrariarem ao equilíbrio natural do Tao. O Tao lembra de certa forma o “cosmos” dos gregos. Todavia, para os gregos o “cosmos” era onipresente e material, enquanto o Tao seria o Não-ser. Pelo Tao Te Ching se busca voltar ao estado natural, em harmonia com o Tao. Estado natural em harmonia com o Tao seria o “estado calma” do Wu wei (modo de viver). Um estado livre de desejos e, consequentemente, de ansiedades. A simplicidade e a humildade lhe são faculdades essenciais. Práticas meditativas são excelentes meios, para obter-se tal estado natural de harmonia, permitindo uma vida condutora ao aprendizado do Tao. Daí, qualquer lei de regência do Tao seria inata, pois é uma lei de regência do absoluto que é não-ser. Por não ser conceito e sim uma intuição, a interpretação do Tao e suas leis de regência contidas no Tao Te Ching pode ser mal realizada por quem não seja iniciado nessa filosofia. Para a boa interpretação, há necessidade de uma análise minuciosa e dentro de conceitos filosóficos próprios do “Wu wei”, como acontece, por exemplo, quando se trata da não-atividade. Alguns afoitos poderiam entender que isso geraria uma ociosidade irresponsável. Mas, na verdade, há um agir espontâneo na não-atividade. Todo esse saber a ser oriundo da experiência de uma vida em harmonia obtida pelo estado de calma, importa no fundo em se ver/olhar/entender no não-ser. Se ver no não-ser é um dos experimentos realizados pela física quântica no estudo da matéria e da energia. Aliás, conhecimentos orientais e física quântica têm se tangenciado com imensa frequência. E as indagações que me surgem, após conversa com amigo, são: “Os orientais sabiam que sabiam tanto? Nós ocidentais é que somos muito atrasados? Estamos a tentar saber o que já se sabia?” Ciência, filosofia e espiritualidade podem estar muito mais coesas do que imaginamos, e, talvez, apesar dos seus bons frutos, precisamos rever a separação concebida por Descartes para tais coisas, sem ser retirado o mérito de sua criação da modernidade no pensar e na revisão das áreas de conhecimento.

Autoria: Fernando Sá

Autores citados:Descartes, Lao Tse